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por si

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

Por si (per se; kath’ (h)autó)/em relação a nós

Desde os diálogos intermediários, a expressão proposicional kath ’ auto — normalmente traduzida por “em si” ou “por causa de si mesmo” — caracteriza, juntamente com outras determinações, o modo de ser das ideias. Assim, no Banquete  , o “belo”, em virtude do qual o amor (erôs) atravessa os estágios das manifestações corpóreas e psíquicas da beleza até as espirituais, recebe finalmente de Diotima, a sacerdotisa de Mantineia, a seguinte caracterização (Banq. 211b): ele é “ele mesmo” (auto) “em” (ou “por”) “si mesmo” (kath’auto), “consigo mesmo” (meth’hauto), “sendo sempre uniforme” (monoeides aei on), enquanto todas as demais coisas belas participam dele (metechonta), sem que ele (o belo em si) seja minimamente prejudicado ou afetado. Aqui, a determinação auto kath’auto está em oposição às diversas limitações e relativizações a que estão sujeitas as instanciações do belo. Diferentemente destas, ele não está sujeito (Banq. 211a) ao devir, nem ao perecimento, ao crescimento ou ao definhamento, ele não é belo num aspecto e feio em outro, ora belo, ora não, nem é comparativamente (pros men to) belo e também, de novo, comparativamente (pros de to) feio, não é belo aqui, feio ali, não é belo para alguns e feio para outros; ao contrário, ele é (Banq. 211e) inteiro (eilikrines), puro (katharon) e sem mistura (ameikton). O decisivo é que o belo em si absolutamente não aparece em alguma outra coisa (oude pou on en heterô tini, Banq. 211a) como um eventual portador, mas é ele mesmo, por causa de si mesmo, e é exclusivamente aquilo que ele é, a saber, belo (auto ... ho estin kalon, Banq. 211c); na formulação sucinta, ainda que controversa de Cherniss (1944, p. 298): “a ideia é aquilo que o particular tem como um atributo”. Ser kath’auto significa, portanto, inicialmente um ser sem dependência e relativização, um ser que se absorve completamente em sua determinação quiditativa e no qual, portanto, a identidade conceitual implica a numérica.

A existência da ideia independente das coisas individuais que nela tomam parte (cf. de modo geral Fine 1984), salientada no Banquete (211b), é explicitamente vinculada no Parmênides ao seu status de ousia kath’autên (133c)- todavia no aguçamento crítico característico da primeira parte do Parmênides. [SHÄFER]