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participação

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

Participação (metochê, methexis)

Limites e problemas do conceito de participação: a participação refere-se primordialmente ao intricado problema, e altamente controverso nos estudos platônicos, da imanência dos “protótipos” (ver ideias) transcendentes em suas cópias (ver imagem/cópia) do mundo sensível (Devereux 2000, p. 206-215) e, na medida em que isso também inclui o problema da única instância primária em face da pluralidade de suas instanciações determinadas, ao problema da unidade e multiplicidade (ver um/muitos). Em outras palavras: a participação deve explicar a relação entre a ideia única e a multiplicidade de suas transplantações individuais no mundo do devir que são sempre apenas graduadamente parciais e nunca perfeitas (Féd.   74e). Na obra platônica são inúmeros os trechos que abordam a relação de participação, assim compreendida, do um e do múltiplo (entre outros, Fil. 14c-18d; Fedro   265dss.; Rep.   476a ss.; Teet. 184d). No entanto, Platão em grande medida deixa irresoluta em seus diálogos a dificuldade sobre como se deve entender que, por exemplo, ações individuais, homens determinados ou leis concretas são justos porque participam na ideia da justiça e também sobre como a justiça única tem e/ou mantém sua presença em muitos atos, pessoas e coisas justos — como já se vê na crítica de Aristóteles à participação: Meta-física 991a, 1045b, 1079b. Apenas se afirma enfaticamente que é assim: o homem é grande única e exclusivamente por causa de sua participação na ideia da grandeza (“da grandeza em si mesma”). Uma explicação diferente, para não falar de uma explicação física nem de uma quantitativa, é explicitamente rejeitada (Féd. 100d-101b). De maneira semelhante, o trecho Sof. 255e constata que todo indivíduo não é diferente dos outros graças à sua qualidade essencial, physis, mas sim por participação na ideia do Outro (para a relação entre physis e participação, ver também abaixo). Em todo caso, o emprego da palavra “participação” em Platão exibe uma peculiaridade digna de consideração: enquanto o determinante na relação de participação é idêntico a si mesmo, só se pode reconhecer, a respeito da coisa determinada por essa mesma relação, que ela só tem aquela determinação e, portanto, não é idêntica a ela, podendo também perdê-la (Féd. 78e, 102b; Parm. 130c, 133d; Tim. 52a), o que também contribui para explicar a transitoriedade e a mutabilidade do mundo sensível diante da imutabilidade do mundo espiritual das ideias. Ao mesmo tempo, a participação é o membro de ligação — que transpõe o chôrismos (ver separação) — entre o mundo espiritual constitutivo e o sensível constituído, que do contrário permaneceríam justapostos sem mediação (Sof. 237a-b, 258c). Posteriormente permanecem no pano de fundo aqui tentativas de classificação, por exemplo no campo da lógica dos predicados ou da teoria dos conjuntos, tais como foram referidas a Platão na sucessão de Frege: portanto, por exemplo, a concepção do problema de que “um objeto x é F exatamente quando uma ideia homônima [!] F(-dade) existe e x tem parte nela” (Graeser 1975, p. 79) e os resultados filosóficos disso.

Além disso, uma atenção menos explícita é dedicada à questão de como se deve pensar a “direção da participação”: enquanto a palavra “participação” deixa aberta a direção de dar parte e tomar parte, o grego faz uma diferença entre methexis, como doação de parte do lado das ideias, e metochê, como o tomar parte da instância individual na ideia. Na maioria dos casos está certamente claro que a iniciativa, o participar donativo, deve estar no lado da ideia; e assim também aparece a palavra metalambanein, acolher ou receber, no lugar de metechein, onde se fala da participação das coisas nas ideias (Féd. 102b; Parm. 129a, 131a). Mas no caso das virtudes, por exemplo, é evidentemente pressuposta como participação uma assemelhação ativa do homem à ideia: quando, por exemplo, se exige que o homem seja estruturalmente semelhante à ideia de uma determinada virtude. Esse contexto talvez também inclua o exemplo das “letras pequenas” e “letras grandes”, que apesar da diferença são as mesmas letras (Rep. 328d; cf. Górg. 507e). Essa semelhança estrutural faria a alma então ascender para as ideias — igual para igual (ainda que, possivelmente, apenas depois da morte: Féd. 78b-80b) (Rep. 614a-621d). A autoestruturação do homem ou de certas coisas da esfera de acesso humana (cf. a “virtude da polis” em Rep. 432b) é um tipo de participação ativa, ainda que não totalmente autoproduzida, no sentido da participação intencionada. Desse modo, o homem é aqui seu próprio DEMIURGO. Sua tarefa também é, tendo em vista as essencialidades puras e ordenações no mundo das ideias, configurar o mundo visível como melhor imitação possível delas. Isso não oferece de modo algum uma explicação filosófica para o problema da participação (como novamente se vê na crítica de Aristóteles, Segundos analíticos 97b; Tópicos 139b), mas, em todo caso, ele se torna abordável na linguagem mítica da representação: tal como um artista, ao contemplar o belo e o perfeito, se sente impelido à IMITAÇÃO (mimêsis), em que o elemento artístico reside na tentativa de introduzir ou traduzir o imitado tanto quanto possível na obra artística, assim a imagem espiritual da physis de essencialidades verdadeiras no Demiurgo cognoscente também é aquilo que ele, por assim dizer, como causa efficiens pretende copiar tanto quanto possível dentro de sua obra de arte. Onde isso é bem-sucedido, a cópia participa do modelo por meio do membro de ligação da physis. Portanto, no uso linguístico, physis e ergon (trabalho) também podem convergir definitoriamente na caracterização da coisa determinada única, e isso significa no contexto platônico: com vistas à ideia, ao singular em Platão (cf. Rep. 477c, 352d ss.; cf. a esse respeito Schmot 2000a, p. 42). Essa relação ergon-physis reaparece (atrelada ao problema do um e do múltiplo) na imagem do carro com as várias partes individuais em Teet. 207a-c: apenas considerando o conhecimento da função que as partes individualmente sem sentido têm para o complexo de sentido do carro pronto podemos deduzir a qualidade (physis) do carro. Aquilo para que ele é pensado constitui sua essência; em outras palavras: sua determinação, isto é, seu ergon e, portanto, sua physis resultam apenas do fato de que as muitas partes individuais participam na unidade de sentido do carro (PERLS 1973, p. 336 s.). [SHÄFER]