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quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

Ordem/cosmos (taxis/kosmos)

I. O conceito de ordem (kosmos, taxis) tem uma importância extraordinária no pensamento de Platão em três contextos temáticos: em primeiro lugar na cosmologia, em segundo na psicologia e em terceiro na filosofia política. Essas três esferas estão estreitamente inter-relacionadas; para Platão, existem princípios de ordem amplos, que são ao mesmo tempo válidos para o universo, a alma humana, assim como para a ordem jurídica e do Estado. No campo do cosmos esses três princípios estão factualmente em vigor, ao passo que para a alma e o Estado eles devem ser vinculativos no sentido normativo. Para Platão as características da ordem são a unidade, a simplicidade, a completude, a imutabilidade, a regularidade, a harmonia, a simetria ou a proporção matemática. Portanto, a ordem é entendida como estabilidade temporal, como imutabilidade estrutural e como uma consonância de partes distintas; para esse último aspecto, especialmente o conceito de harmonia desempenha um papel importante. Visto tratar-se, nessas características enumeradas, de propriedades essenciais das ideias platônicas, podemos supor que uma das funções centrais para as quais Platão desenvolve sua concepção de ideia é a constituição da ordem no mundo sensível.

No estágio inicial da língua grega, o termo kosmos significa habitualmente uma disposição bem-sucedida ou ordenação bem-sucedida de partes formando um todo, por exemplo um edifício bem estruturado ou uma tropa bem organizada; mais tarde, kosmos designa simplesmente a ordem. Seu significado filosófico (no sentido de “ordem do mundo” ou “mundo” — para este último inicialmente são habituais conceitos como ta onta ou ta panta) remonta possivelmente a Anaxímenes   (DK 13 B 2). A expressão taxis, que originalmente designa um veredicto ou uma ordenação, também talvez possa ser remontada a Anaximandro   (DK 12 B 1) com um sentido filosófico, a saber, como “ordem cósmica do TEMPO” (kata tên tou chronou taxin). Pitágoras teria chamado o universo de kosmos por causa de sua ordem (DK 14,21). Menos controverso do que esses registros iniciais é o emprego de kosmos em Heráclito   (cf. DK 22 B 14), mas no caso dele não é claro se se trata especialmente da ordem do mundo ou, em geral, da “mais bela ordem”.

Às vezes, Platão emprega kosmos no sentido de “ordem estatal (ou jurídica)” (Leis 758d-759a, 764b-d), às vezes com o significado de “céu” (Féd.   108e; Rep.   509d; Tim. 92c), mais frequentemente, porém, no sentido de “universo” (Lísis 214b; Górg. 508a; Crát. 412d; Pol 270b, 272e; Fil. 28d; Tim. 28c, 69c). O uso mais filosoficamente interessante é o do significado de “ordem do mundo” (Pol. 269d, 273a; Tim. 27a, 28b; Leis 821a, 897c, 898a). O conceito de taxis é usado por Platão no sentido de “ordem legal” (por exemplo, Pol. 294e), no sentido de uma instrução ou ordenação (Tim. 42e) ou no sentido daquela ordem que se deve encontrar na alma do homem e também na do Estado (Rep. 577d). [SHÄFER]