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justiça

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

Justiça (dikaiosynê)

A justiça como ideia: a justiça (ou “o justo em si”, dikaion auto, Féd.   65d passim) é uma ideia em muitos aspectos comparável ao belo (Banq. 210e, 211a). Como ideia, a justiça deve ser vista no “lugar supraceleste” (Fedro   247d), ela é não-gerada e eterna como as relações matemáticas. Por isso, quem vê a justiça como produto temporal das relações e dos desenvolvimentos sociais extravia-se (como mostra a discussão após essa suposição em Rep.   359a). Com essa concepção da justiça “transcendente” como princípio do padrão de relações normativas, Platão pôde adotar interpretações mais antigas, segundo as quais o divino é “garantia de uma justiça que não pode realmente se impor no mundo histórico” (Gigon 1975, p. 136). De fato, a justiça é, por assim dizer, o exemplo de exibição de um saber presente sempre e ananmeticamente (ver REMINISCÊNCIA) a respeito de um estado ideal e desejável, que se reencontra nas realizações ônticas desse ideal apenas de modo bastante insatisfatório (ver MAL). Assim, em Rep. 472a-d e 540e Sócrates admite que está em suspenso a possibilidade de uma realização da justiça da POLIS, que ele aqui concebe idealiter. Porém, “talvez haja no céu (en ouranô) um modelo (paradeigma) [da justiça] para aquele que queira ver e se orientar pelo que vê aí. Mas é indiferente se alguém assim já existiu ou existirá” [Rep. 592b; cf. 472e). [SHÄFER]