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instantâneo

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

Instantâneo/instantaneidade, súbito/ subitaneidade, imediato/imediatez ([to] exaiphnês)

O termo exaiphnês aparece raras vezes na obra platônica. Raras vezes, pelo menos, se tomamos como critério o elevado significado que o conceito tem para Platão e muito mais talvez para a tradição platônica.

I. Conhecimento repentino: parte da epistemologia platônica é uma psicologia do conhecimento, cuja característica principal é a subitaneidade do último passo ou salto do conhecimento, o passo decifrador. Ela resulta das diretrizes da filosofia platônica e, especialmente, da doutrina das ideias e da doutrina da anamnese a ela relacionada (ver reminiscência). A busca é durativa, mas a descoberta (assim como a lembrança) é repentina. As personagens dos diálogos de Platão e os platônicos posteriores viam e analisavam uma diferença marcante entre busca longa e penosa e o conhecer instantâneo, que era sentido como uma iluminação “de cima” muito súbita, como se não fosse coagível e produzível pelos homens até o último pormenor. No entanto, essa virada brusca do conhecimento pressupõe do lado humano uma disciplina longa, um exercício e uma ascese (no sentido da palavra grega), que prepara para o conhecimento: esse é um topos que também desempenha um papel decisivo na mistologia, que terminologica-mente se liga às diretrizes da descrição do conhecimento instantâneo do Banquete  . A subitaneidade, que com um único pensamento ilumina como um raio a escuridão da ignorância e então possibilita o olhar decifrador para toda a paisagem intelectual, é nomeada na tradição platônica com uma expressão promovida a termo técnico nessa direção: to exaiphnês, o instantâneo. Possivelmente os diálogos de Platão reproduzam estilisticamente essa subitaneidade do conhecer, o momento que, de um golpe, tudo esclarece e permite entender de uma vez tudo o que antes permanecia parcial ou totalmente oculto: num processo longo, questões são levantadas, mal-entendidos são discutidos, respostas são sugeridas e rejeitadas e conduzidas sob falsas pistas, até que a solução surge clara diante dos olhos geralmente num raciocínio bastante conciso, que mostra que antes deve ter ocorrido um instante decisivo da compreensão. Esse instante do diálogo em que, por assim dizer, “a ficha cai” e o conhecimento está em curso corresponde à metafísica platônica, em que a linha divisória, o chorismos entre o mundo terreno das sombras da opinião e da suposição e o mundo inteligível das ideias claras e puras, irrefutáveis é infinitamente tênue e sem campo de transição, sem qualquer tertium mediador (ver separação). Se essa linha divisória é transposta, e isso ocorre instantaneamente sob esses pressupostos metafísicos, então tudo também fica claro instantaneamente. Banq. 209e-212b fornece uma bela descrição desse esclarecimento “exaiphenético”, já também (e parcialmente num tom irônico) contrastado em seguida pela aparição repentina, descrita até mesmo à maneira de um assalto, das personagens na ação-moldura do diálogo. A subitaneidade do conhecimento é, além disso, um tema em Teet. 162c e Pol. 291b, em que ele é por duas vezes avaliado como algo totalmente espantoso. É célebre a grande frequência de exaiphnês no símile da caverna na República   (515c, 516a, 516e), em que ora designa a subitaneidade da passagem de um estado de conhecimento a outro, ora a libertação da ignorância, finalmente também (em 516a) a necessidade de uma longa habituação de preparação no pensamento para que haja os últimos e repentinos estágios do conhecimento. A descrição mais concludente do conhecimento “exaiphenético” e de suas consequências é oferecida, numa metáfora inimitável, pela Carta 7 (341 c-d): “Da frequente discussão sobre o objeto, assim como da convivência com ele, inflama-se subitamente aquele pensamento na alma, como uma luz acesa de uma faísca, e continua nutrindo a si mesmo”. [SHÄFER]