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ideia

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

Ideia/forma/essência [idea, eidos, morphê, paradeigma]

1.O conceito: o que na historiografia da filosofia é denominado “ideia” platônica é geralmente chamado por Platão, sem preferência perceptível na escolha lexical, entre outras coisas, de idea, morphê, eidos ou, dependendo do contexto, de genos ou até mesmo ousia e physis (ver SER, ver NATUREZA) (MEINHARDT 1968, p. 40 e 69). Pelo menos as três primeiras expressões compartilham o significado básico de “forma”, em que, entretanto, já está dada a conexão com physis (“qualidade essencial”) e genos (propriamente “espécie” ou “[determinação de] gênero)” também na linguagem extrafilosófica, na medida em que se deve pensar aqui numa estruturação interna partilhada por todos os elementos de um grupo, “conjunto” ou espécie e numa qualidade comumente identifica-dora, a qual se reflete na figura externa ou modo de execução visível; portanto, forma e espécie podem, segundo essa compreensão, ser terminologicamente aproximadas (assim, por exemplo, em Tucídides 3,83: “toda espécie/forma [idea] de maldade”). Esse aspecto da visibilidade tem aqui uma carga totalmente positiva, de modo que eidos e idea, ambas remetendo etimologicamente à raiz indo-germânica vid-, de “ver”, referem-se mais a “vistoso” do que a “visível”, o que apresenta uma razão nada negligenciável para a caracterização da ideia de Platão. Em seus diálogos, Platão se serve do uso não terminológico de idea, eidos, morphê etc. como “figura exterior”, ou “contorno”, ou do uso que se tornou particular para sua filosofia no sentido de “determinação específica”, “modo de ser” ou “(qualidade da) essência” de alguma coisa, assim como das nuanças semânticas intermediárias, e isso amiúde diretamente lado a lado ou no mesmíssimo raciocínio (cf. Guthrie   1978, p. 97: “multivocal key-term”). Mas somente o contexto do diálogo em questão fornece informação sobre o significado pretendido, e muitas vezes nem mesmo o contexto oferece dados precisos. Tentativas de sistematizar o uso que Platão faz das palavras e de atribuir a cada um dos termos idea, eidos, morphê, physis etc. um significado próprio terminológico, independente do contexto e que fosse além dos conceitos associados, existiram desde a Antiguidade (ver abaixo IV) até hoje (Dixsaut 2000, p. 71-93, 143-148), mas não obtiveram sucesso convincente nem grande força para se impor terminologicamente. Onde Platão, na continuação de variantes de significado como “determinação específica” ou “determinação essencial”, fala mais nitidamente das ideias como instâncias metafísicas que são o princípio modelar do ser das coisas individuais (ver CÓPIA), ele muitas vezes dá preferência a formulações não terminológicas e de difícil manejo: “o belo em si mesmo [auto)” ou “por si mesmo” [kath’ auto) (Féd.   78d), “essa essência mesma, a que atribuímos o verdadeiro ser” [Féd. 78c), “o puro, o eterno, sempre igual a si mesmo” (Féd. 79d), “o belo em sua natureza” (Banq. 210e), “o que se comporta eternamente do mesmo modo” (Tim. 28a), “a essência verdadeiramente existente (ousia ontos ousa)” (Fedro   247c), entre outras; mais do que em outra parte, nas ideias se separam “a univocidade do pensamento platônico e a relativa falta de fixação da terminologia a ele ligada” (Wagner 1980, p. 169). [SHÄFER]