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quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

Fundamento/fundamentação/causa [aition/synaition, aitía etc.)

I. A descoberta de que os pares conceituais “causa e efeito”, comuns para nós também no cotidiano, bem como “fundamento e consequência” foram, na língua grega, um resultado — relativamente tardio — de teorias filosóficas poderia num primeiro momento causar estranheza. O que para nós parece um componente irrenunciável de qualquer língua também não falta em grego. Ao contrário, nexos causais ou explicativos são informalmente expressos (mediante, por exemplo: “porque, “em consequência de”, “por causa de”, “por isso” ou coisas semelhantes). O desenvolvimento dos conceitos nominais pelos filósofos também não exigiu nenhum neologismo, mas apenas uma expansão do significado do vocabulário existente. As expressões usadas mais tarde para causa/ fundamento/fundamentação pertenciam totalmente ao antigo estoque da língua grega, mas derivavam da esfera jurídica no sentido mais amplo do termo. O adjetivo aitios/aition significava “culpado” ou responsável (anaitios = não culpado; synaitios = coculpado, corresponsável), o nome aitia significava culpa, inculpação, acusação ou responsabilidade em questão (de resto, algo correspondente também se aplica a causa em latim ou Ursache em alemão). Desse modo, Agamenon, por exemplo, na Ilíada, alega que não é ele o culpado (aitios) pelo conflito com Aquiles, mas sim Zeus, as Moiras e as Eríneas que vagam pelas nuvens, que o atingiram com um ofuscamento terrível (Ilíada 19,86-89). Também na tragédia e na lírica, aitios, aitia e anaitios são frequentemente usados nesse sentido moral-legal. O verbo aitiaomai (“culpar”, “acusar”, “tornar responsável”) permanece restrito a esse emprego; também mais tarde não foi formado um verbo para “causar” em grego.

Já na época clássica aitioslaitia também eram usados para a designação de fatores de todo tipo, como está registrado nas explicações de historiadores ou em escritos médicos (cf., por exemplo, Heródoto [1, 1.1]: “por qual motivo [aitia] eles lutaram entre si”; TucÍdides [1,1.1] “O fundamento não era tanto a falta de homens mas de dinheiro”; Hipócrates [De vetere medicina 1,4]: “a causa [aitiê] para doença e morte nos homens”). Com isso, a palavra perdeu sua conotação geralmente negativa, que é acompanhada por infrações das normas legais e morais; ao mesmo tempo, a distinção entre o culpado (aitios) e sua culpa (aitia) perdeu significado, de modo que ambas as designações são muitas vezes usadas indistintamente. Visto que, além da causa eficaz (quem ou o que fez ou provocou alguma coisa), motivações (por que) e outros fatores constitutivos (como, com que) foram designados como aitios/aitia, apenas raramente eles tinham uma pretensão de exclusividade, isto é, a suposição de que se trata “da” causa que é a única responsável. Com isso, a necessidade, que hoje ligamos ao conceito de causa, inicialmente não entra em jogo de modo algum. [SHÄFER]