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quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

Definição (horos)

1. Sócrates, o mestre de Platão, já é considerado o “inventor” do ato de definir no sentido técnico. Aristóteles atribui-lhe, “como o primeiro”, a competência para a definição de conceitos éticos em geral (Metafísica 987b). Não só os diálogos iniciais de Platão, mas também o relato de Xenofonte   (Memorabilia 1, 1, 16) atestam que os conceitos de valores éticos eram um interesse de Sócrates. Mas nesses diálogos não há um terminus technicus para “definição”. Em vez disso, com questões do tipo “o que é x?” (ti estin), Sócrates convida seus interlocutores à precisão de conceitos vagos, irrefletidos ou também controversos (cf. Laq. 190d-e: “Que nossa primeira tentativa seja dizer o que é a coragem” [andreia tipoi estin]; similarmente 194c; Cárm. 159: a temperança; Eutíf. 5c-d: o pio/santo; Mên. 71a-b: a virtude; Híp. maior 287d: o belo; Górg. 447c: a RETÓRICA; Rep.   I [ver BELEZA e JUSTIÇA]).

Para justificar essa prática, Sócrates se reporta à sua “missão divina” de examinar o pretenso saber de seus semelhantes (Apol. 20d-22e). No início de todo exame se encontra a pergunta pela essência ou natureza do objeto em questão (ver PHYSIS). Mas saber não é, para Sócrates, um fim em si mesmo, mas repousa em sua convicção de que uma vida não examinada não é digna de viver (Apol. 38a —,Laq. 187e-188c). Como o saber cotidiano normalmente se baseia em opiniões irrefletidas e num uso linguístico pouco preciso, as pessoas questionadas não estão em condição de concentrar seu entendimento numa definição unitária: se não se restringem a enumerar exemplos, suas definições são muito estreitas ou demasiado amplas, revelam-se contraditórias ou circulares. A insuficiência dessas tentativas não é terminologicamente caracterizada, mas é exposta por meio do elenchos. Mas também há passagens de auxílio teórico. Assim, Sócrates explica a Eutífron   que lhe importa a forma unitária, que é comum à multiplicidade de casos individuais: tudo que é santo e não santo deve possuir uma forma (Eutíf. 5d: mian tina ideam, Eutíf. 6d-e: auto to eidos; autên tên idean). Embora sejam empregados aí termos que mais tarde serão típicos da teoria das ideias, Platão parece pensar aqui apenas na unidade dos conceitos e não ainda numa natureza separada. Mas não resta dúvida de que ele pressupõe a existência de uma natureza unitária e defende, portanto, a posição de um realismo metafísico. Do contrário, a busca por definições universais seria apenas um jogo intelectual.

Para os diálogos da fase inicial, não se pode dizer dogmaticamente se Platão supõe que um elenchos bem-sucedido extrairá o verdadeiro cerne das opiniões vagas e não fundamentadas, mas não obrigatoriamente falsas (ver REMINISCÊNCIA). Mas o fato de que definições adequadas repousam em delimitações apropriadas não apenas é apresentado elencticamente, mas também é terminologicamente indicado. Além da possível exigência de um LOGOS, há o emprego do termo horos (Górg. 470b, 488c; Rep. 331d), e já nos diálogos iniciais e intermediários são empregados os verbos horizô (Cárm. 163d; Eutíf. 9c-d; Laq. 194c; Górg. 453a, 470b, 513d; Féd.   104c) e dihorizô (Cárm. 163e; Prot. 349c; Górg. 488d; Rep. 341b, 344e). Ocasionais “definições-padrão” de Sócrates atestam que Platão já tem em vista a posterior forma canônica de definição (cf. Laq. 192a-b: rapidez é “a faculdade de executar muito em pouco tempo em todo tipo de atividade”; Mên. 74b-76a: “a figura é a limitação de um corpo”).

O nome horos (nas formas linguísticas regionalmente distintas) é empregado desde Homero   para designação de “limite”, “limitação”, “marcação de limite”, “pedra fronteiriça”, mas também no sentido temporal de “prazo” (o verbo correspondente é horizô = “limitar”, “marcar”, “separar”, “dividir”). No período clássico, isso resultou num grande número de empregos abstratos para designar decretos políticos e legais, intervalos na música, proporções na matemática e, em geral, no sentido de padrão, medida ou signo. Esse espectro explica por que Aristóteles mais tarde utiliza horos tanto para a designação de premissas e conclusões em silogismos quanto para os “termos” aí empregados; para “definição” ele prefere (além do logos, com ocasional complementação por horistikos logos) a expressão derivada horismos. Mas ressoa em todos os empregos abstratos e metafóricos o significado original de “limite” ou “delimitação” — e este se aplica até mesmo para a tradução latina definitio (sobretudo em Cícero), pois o latino finis (fim, limite) tem conotações semelhantes às do termo grego horos. Testemunhos de todos esses empregos de horos encontram-se também nas obras de Platão (determinação legal: Leis 744d passim; intervalo tonal: Rep. 443d; Tim. 36b; Fil. 17d; padrão, medida, sinal, relação, prescrição, norma: Rep. 373d, 423b, 551a; Fedro   237d passim). [SHÄFER]