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quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

Conhecimento (epistêmê, noêsis, nus, gnôsis, phronêsis, mathêsis)

Entre as peças para determinar o clássico conceito de conhecimento ou saber estão VERDADE, convicção e fundamentação, de modo que um saber está dado exatamente quando há uma convicção fundamentada que seja verdadeira. Em Platão é possível encontrar todas essas peças de determinação do conceito clássico de saber e até mesmo a definição explícita dele. Não obstante, também já vemos em Platão o profundo questionamento desse conceito de saber.

De acordo com Górg. 454d, o saber (epistême, mathêsis) não é o mesmo que convicção (pistis), pois a verdade (alêtheia; ver também as implicações de Eutid. 296d-297a) sempre faz parte do saber, mas não da convicção. Todavia, como Górg. 454e dá a entender, a convicção está em todo caso contida no saber, ainda que não coincida com este.

No entanto, a convicção verdadeira também ainda não é saber, como é explicado em Mên. 97e-98a: só há saber onde as OPINIÕES verdadeiras/retas (alêtheisl orthai doxai), em si fugazes, sejam “presas”, ancoradas, pela exposição de seu fundamento (aitias logismô) (Mên. 98a). E justamente por essa fixação — essa fundamentação — que o saber se diferencia da (mera) opinião reta (Mên. 98a). O trecho Banq. 202 a salienta que o opinar reto (ortha doxazein) não é saber sem a capacidade para a fundamentação (aneu te echein logon dunai). Quanto à necessidade da fundamentabilidade para o saber, ver também Fedro   76b, Rep.   534b, assim como Tim. 51 e.

Por fim, no Teeteto   — um diálogo primordialmente dedicado à determinação do conceito de conhecimento ou saber (ver Teet. 145e-146a) — encontramos a clássica definição de saber acima mencionada na seguinte variante da formulação: saber é opinião verdadeira com FUNDAMENTAÇÃO (meta logu alêthês doxa; Teet. 201c-d), e precisamente depois de outras sugestões de definição de saber — saber como percepção (aisthêsis, Teet. 151e) e saber como opinião verdadeira (alêthês doxa, Teet. 187b, 200e) — terem sido discutidas e consideradas inaceitáveis (Teet. 186e, 201c).

Portanto, também no Teeteto, tal como no Mênon, o saber é contraposto à opinião verdadeira: como algo que vai além da opinião verdadeira. Mas o elemento especial no Teeteto é que nele a definição clássica de saber, como as duas definições predecessoras no diálogo, é rejeitada (Teet. 210a-b), de sorte que o diálogo termina aporeticamente (pois os debatedores de Platão não tentam outra definição de saber). A crítica platônica à definição clássica de saber, que se pode deduzir das explanações quase mereológicas de Teet. 201d-206b, consiste em que a fundamentação de que se fala naquela DEFINIÇÃO deve ter um início sem fundamentação em qualquer caso do saber — o Sócrates de Platão, para designar esse início, fala de modo plástico-mereológico de “[prôta] stoicheia”: “[primeiros] componentes fundamentais”, mas também “letras” (Teet. 201 e). Do contrário teríamos um regresso infinito de fundamentações, que, como tal, certamente não pode fundamentar a opinião verdadeira, que é coconstituinte do saber em questão — para designar esse sobre saber e conhecimento se adéquam saber fundamentado, o Sócrates de Platão fala de modo plástico-mereológico de “syllabê”: “o unido”, mas também “sílaba” (Teet. 202e). O INÍCIO sem fundamento de uma justificação do saber é ele próprio um saber, ou também não. Mas como uma fundamentação que parte daquilo que não é um saber (stoicheia agnôsta; Teet. 202e) pode complementar uma teoria verdadeira convertendo-a em saber (cf. Teet. 203c e principalmente Rep. 533c)? Ao contrário, o importante é que uma fundamentação acrescentada a uma opinião verdadeira já deve se apoiar num saber primeiro, inicial, para fazer da opinião verdadeira um saber (cf. Teet. 203c-d). Mas em que sentido, então, o saber que se encontra no início sem fundamentos de uma fundamentação do saber é um saber? Não é um saber no sentido da clássica definição de saber (cf. Teet. 202d-e), pois lhe falta a fundamentação; portanto, a definição clássica de saber não abarca toda forma de saber (cf. Teet. 206b). Todavia, não podemos simplesmente melhorar da seguinte maneira essa definição: o saber é opinião verdadeira fundamentada pelo saber (portanto, vinculada ao saber) (cf. Teet. 210a), pois, evidentemente, definir o saber desse modo é “inteiramente tolo” (Teet. 210a): no definiente já está pressuposto o conceito que cumpre primeiramente definir; se tentamos eliminá-lo com o auxílio da definição circular indicada, caímos obviamente num regresso infinito de substituições, em que o conceito a ser eliminado volta a aparecer em cada passo de eliminação. [SHÄFER]