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aporía

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

O termo “aporia” (aporia em grego, contrário de euporia; dubitatio em latim) significa falta de saída, penúria, embaraço e necessidade. Nos diálogos de Platão, aporia designa a percepção de uma falta, a problemática de conteúdos de um fato filosófico ou a incapacidade de obter alguma coisa (Crát. 415c; Banq. 203e; Mên. 76; Prot. 324e). Em Platão, a aporia se encontra em estreita ligação com o procedimento do elenchos, cujo “resultado” descreve a aporia. A aporia adquire um significado central nos diálogos de Platão (Erler 1987a; Mackenkie 1988, p. 15-45), pois em inúmeros diálogos as tentativas de definir virtudes ou sua ensinabilidade terminam aporeticamente, isto é, em perplexidade dos interlocutores (por exemplo, Laques  , Cármides  , Eutífron  , Protágoras  , Lísis). Mas também terminam aporeticamente as discussões sobre as ideias (Parmênides; Erler 1987b, p. 153-163) e sobre a possibilidade do conhecimento (Burnyeat 1990). Essas aporias nascem quando um interlocutor aparentemente sábio se enreda em contradições, reconhece a dubiedade da certeza de seu saber e, por isso, não pode continuar discutindo, mas também já não reivindica saber o que ele não sabe. Conforme o talento do interlocutor, a aporia significará uma tarefa de investigação (por exemplo, Agatão no Banquete  ) ou um estímulo para investigar mais (Sócrates, Banq. 201d ss.). A aporia conduz, portanto, àquela ignorância sapiente que se acha entre o não-saber (doxosophos) e o saber (sophos) e marca o início da busca pelo saber e, portanto, da filosofia (Cárm. 169c-d). A causa do estado aporético, muitas vezes descrito com metáforas como vertigem, estupefação, paralisia (Mên. 84c; Prot. 321c), é a falta do saber necessário para a defesa das teses nos parceiros de Sócrates. No entanto, irregularidades argumentativas ou retenção do saber — percebida como dissimulação irônica — por parte de Sócrates desempenham às vezes algum papel. Indicações comentadoras de Sócrates levam o leitor a supor que há possibilidades de uma superação da aporia no sentido de Platão (Erler 1987a, p. 78 ss., 259 ss.). Assim, a aporia marca ao mesmo tempo um ponto final mas também um reinicio para uma busca adicional, com uma meta determinada. Com seu caráter orientador no caminho da falta à plenitude e ao conhecimento, a aporia, como estação intermediária, torna-se uma parte essencial da filosofia de Platão (Schulz 1960, p. 261-275; Erler 1996, p. 38-42). A estrutura da República   pode, no sentido de uma interpretação própria, servir como indício de que Platão via a aporia como algo que é, por princípio, solucionável, e queria que fosse vista assim, e de qual condição deve ser cumprida para tanto. No primeiro livro, a pergunta pela justiça fracassa no diálogo com Trasimaco, mas nos livros seguintes com os irmãos “filosoficamente” mais abertos, Adimanto e Glauco, ela é levada adiante num nível superior com aspectos totalmente positivos (Szlezák   1985, p. 281 s.). Evidentemente, é essencial uma mudança de nível na consideração do problema, mudança que — como de fato ocorre com frequência nos diálogos — é acompanhada por uma mudança de interlocutor e, por assim dizer, dramaticamente expressa. O símile da caverna na República — também se podería indicar o interrogatório do escravo no Mênon (Szlezák 1985, p. 186) — corrobora essa interpretação: o filósofo que, após a contemplação da verdade, retorna à caverna obriga, por meio de perguntas e aporia, os habitantes prisioneiros da caverna (Rep. 515d), fixos na ilusão de que as imagens na parede são idênticas à realidade, a virar-se por completo (Szlezák 1997, p. 223). Só então é possível a ascensão rumo ao conhecimento da verdade. [SHÄFER]