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epékeina

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

De outro lado, Plotino   diz, paradoxalmente, que o Uno não pensa, que ele não é o Bem, nem que ele é. Depois afirma que ele é Super-Pensamento, Super-Bondade, Super-Ser. O Uno é epékeina tês ousías, isto é, além do ser ou acima do ser. “Ele basta a si mesmo, nada precisa procurar fora de si, estando acima de todas as coisas (hypèr tà pánta ónta)” [En. VI, 7. 30-32]. “Quando dizemos dele ‘o Bem’, não lhe conferimos um atributo, como algo que lhe pertence. Ele é ele mesmo” [En. VI, 7, 38, 4-6]. Não há mister usar o verbo “ser”, dizendo: “Ele é o Bem”. Uno e Bem são convertíveis e constituem perfeições simples.

[...] Ele (Uno) não é tudo, nem parte do todo: “Ele é acima das coisas, é a sua causa e ele não é essas coisas” [En. V, 5, 13, 19-20]. Noutras palavras, ele transcende a tudo, mas, ao mesmo tempo, está em toda parte. “Se ele estivesse apenas em toda parte, seria o todo” [En. III, 9, 4, 3]. Teríamos monismo e não panenteísmo.

Porém, ao Uno não se lhe nega a perfeição encontrada nos outros seres. Se estes existem, é por ser o Uno o princípio deles. Por conseguinte, necessariamente lhes é superior. A existência deles dá-se por participação [Cf. En. V, 5, 4], ou seja, foram feitos. Tendo sido feitos, eles não se identificam com quem os fez [O Uno é “diverso de tudo” — pántôn héteron (En. V, 4, 1, 6); “Ele é só e desprovido das demais coisas” – mónon kaì êremon tôn állôti estí (En. V, 5, 13, 6); “Ele é para além do Ser” — epékeina toú óntos (En. VI, 6, 5, 38); “Ele é o primeiro e acima do ser” – prôtôs autòs kai hyperóntôs autos (En. VI, 8, 14, 43). À saciedade comprovam esses textos que Plotino confere um lugar de destaque ao Uno, acima das demais realidades.]. Isso significa que no Uno as criaturas se encontram eminenter. Por outra, “a causa não é a mesma coisa que o causado” [En. VI, 9, 6, 54-55] “a causa de todas as coisas não é nada delas (oudén esti ekeínôn)” [En. VI, 9, 6, 56]. “O Uno não pode ser uma das coisas às quais ele é anterior” [En. V, 3, 11, 19].

Por ser a archê de tudo, o Uno é mais perfeito e melhor que seus efeitos: “O criador (poioûn) é melhor do que as coisas criadas, porque é mais perfeito (teleióteron)” [En. V, 5, 13, 38]. [ULLMANN  ]