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sophia

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  
Coenen & Brown

gr. sophia: "sabedoria"; sophos: "sábio"; sophizo: "tornar sábio", "ensinar", "instruir"; "tramar com astúcia".

No NT, termos deste grupo de palavras acham-se principalmente em 1 Co 1-3 (25 vezes), ao passo que os Evangelhos   usam-nos de modo relativamente raro e desigual (Mc   uma só vez; Jo nenhuma vez; Mt   5 vezes e Lc   7 vezes;e, além disto, 4 vezes em Atos). O grupo de palavras acha-se 8 vezes nos escritos paulinos posteriores, 3 vezes em Tg  , uma vez em 2 Pe e 4 vezes em Ap.

1. (a) O uso do grupo de palavras nos Evangelhos é ligado, de modo geral, aos conceitos tradicionais vétero-testamentários e judaicos, onde a sabedoria é o modo de um homem abordar a vida, que decorre da sua vida na aliança outorgada por Deus, e, assim, deve ser considerada a dádiva de Deus. Destarte, conforme Lc 2:40, 52, o menino Jesus, com doze anos, crescia em sabedoria e entendimento, e destinguia-Se por Seu conhecimento excepcional da lei (uma lembrança da ideia judaica de que a sabedoria e o conhecimento da lei são idênticos). Mc 6:2 retrata a surpresa dos habitantes de Nazaré por causa da sabedoria que fora dada ao filho do carpinteiro (cf. Mt 13 :54). Em Atos, também, Estêvão é representado como homem equipado por Deus com o Espírito Santo e a sabedoria, cujo testemunho não pode ser contradito por esta mesma razão (At 6:3, 10). Referência expressa é feita aos precedentes vétero-testamentários (At 7:10; cf. Gn 39:2-3, 21; 41:40-46; SI 105:21). A promessa da sabedoria para os discursos de defesa nas perseguições dos últimos dias que estavam para vir (Lc 21:15) também é formulada nos mesmos termos.

(b) Outro conceito - igualmente judaico - afetou um grupo de ditos que possivelmente tem sua fonte nos Logia. A tradição de uma Sabedoria entendida pessoalmente, que chama os homens para si, bem possivelmente fica por detrás da declaração extraordinária de que "a sabedoria é justificada por suas obras" (Mt 11:19, par. Lc 7:35 "por todos os seus filhos"). Jesus (e João, Sua testemunha) são vistos como porta-vozes da Sabedoria, que traz a salvação. Se incluirmos a introdução à palavra de julgamento contra "esta geração", que em Lc 11:49 é introduzida como uma palavra da Sabedoria de Deus, mas que no par. Mt 23:34 e segs. é entendida como sendo uma palavra de Jesus, poderá ser compreendido que Jesus é a Sabedoria vinda à terra. Quando "esta geração" é confrontada com a Rainha do Sul que veio dos confins da terra a fim de ouvir a sabedoria de Salomão, a repreensão subentendida é corroborada com o comentário: "E eis aqui está quem é maior do que Salomão" (Mt 12:42 par. Lc 11:31; cf. 1 Rs 10:1-10; 2 Cr 9:1-12). A maneira mais fácil de entender estas palavras é pensar na Sabedoria celestial que os homens desprezam (cf. AT 3 (a: em Jesus, esta sabedoria finalmente apareceu. Parece justificável falar de uma cristologia de sophia.

2. A mesma matéria relígio-histórica, embora, conforme W. Schmithals e outros, tenha forte colorido gnóstico, tem um papel para desempenhar na confrontação entre Paulo e o partido espiritual em Corinto que Schmithals identifica com os gnósticos   (Gnosticism in Corinth, 1971). Em uma exposição fundamental de longo alcance, em que desenvolve sua teologia da cruz, Paulo contrasta a sabedoria do mundo com a mensagem da cruz. Deus tornou louca a sabedoria do mundo (1 Co 1:20; cf. 3:19). Não aconteceu através de palavras ou argumentos, onde sentenças da sabedoria mundana eram confrontadas com sentenças da sabedoria cristã.

3. Nas Epístolas paulinas posteriores, a sabedoria é entendida como dádiva da graça de Deus (Ef 1:8, 17; Q 1:9, juntamente com synesis, "compreensão", "entendimento", e phronesis, "compreensão", "entendimento") em que o crente pode crescer.

4. Para Tiago, a sabedoria é demonstrada no bom comportamento mediante obras de bondade (Tg 3:13).

5. No Apocalipse, sophia é louvada em dois textos em forma de hinos, como atributo de Deus (Ap 7:12; cf. também Rm 16:27); deve também ser atribuída ao Cordeiro morto na Sua exaltação (Ap 5 :12). O Cristo exaltado tem o mesmo poder e sabedoria que Deus. Nas outras duas passagens (Ap 13:18; 17:9), sophia é o conhecimento secreto dos cristãos, na base do qual podem interpretar os eventos e mistérios apocalípticos do seu tempo. (Excertos do "Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento", de Coenen & Brown)


Les Notions philosophiques  

É tido por sophós, "hábil", quem quer que testemunhe de uma maestria excepcional, domine seu material, sua língua, seus conhecimentos, os outros e ele mesmo. O mestre artesão, o poeta, o legislador, o "sábio" são figuras sucessivas do sophós; este deslocamento, referido por Aristóteles, coincide com o desenvolvimento da civilização e se dá conta da evolução do termo sophia. Formado a partir do adjetivo, a sophiá designa a certeza, o domínio, a qualidade da execução ou do discernimento, a arte de submeter o múltiplo ao uno: a valorização é, mais que o conteúdo, essencial à noção. Eis porque a sophia, "sabedoria", é uma arete, "excelência", da alma (será uma das quatro virtudes cardiais) e porque sophos encarnará, sobretudo nos estoicos, um ideal de perfeição, de infalibilidade, uma norma divina de conduta e de pensar. (Les Notions philosophiques)


Luc Brisson  

sophía: sabedoria, sabedoria teorética. A filosofia é o "benefício mais importante que jamais foi oferecido e que será jamais acordado à raça mortal, um benefício que vem dos deuses" (Timeu  , 47a-b). Seu estatuto não é aquele de um saber, de uma sabedoria (sophia), mas todavia de um amor ou desejo deste: "aqueles que já são sábios não filosofam, sejam deuses ou homens" (Lisis  , 218a). A filosofia é o nome do modo de vida daquele que deseja alcançar à sabedoria (e que é então nomeado segundo seu desejo: philosophos). Sob esta forma, ela é uma invenção dos diálogos platônicos. (Luc Brisson)


São Boaventura  

Veja como a Sabedoria Divina está secretamente guardada na percepção sensitiva e como é maravilhosa a contemplação dos cinco sentidos espirituais em sua conformidade aos sentidos corporais. [De reductione artium ad theologiam]