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gramática

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

Chaim Samuel Katz
Segundo Lalande  , é a "ciência objetiva das regras que as necessidades lógicas, o uso e a vida social impuseram aos indivíduos no emprego da língua". A Gramática comportaria três momentos distintos: "gramática geral, ciência das regras comuns a todas as línguas. . . gramática comparada, ciência que estuda as relações e as diferenças das línguas comparadas entre si. Gramática histórica, que estuda a história da formação das regras". Nesta visão se colocam perspectivas distintas e contraditórias, que não podem ser unificadas sob um mesmo termo. Por um lado, uma gramática geral, que afirmaria regras universais, por outro, as gramáticas particulares, que seriam comparadas entre si. Nesta perspectiva filosófica existe ambiguidade sobre o primado do geral e do particular.

A mesma ambiguidade é notada no dicionário de dois linguistas, onde a gramática é dita "a ciência da estrutura de uma língua e as regras e princípios de seu uso geralmente aceito". Afirmam a dependência gramatical aos usos constantes da língua, enquanto se sabe que a língua tem diferentes funções, que não podem ser apreendidas imediatamente, mas que têm que ser estruturalmente construídas. A língua tem componentes particulares, mas tem também componentes universais, e uma teoria adequada deve estabelecer este relacionamento. Benveniste diz que "diante da extrema complexidade da língua, deve-se, pois, visar estabelecer uma ordenação, ao mesmo tempo nos fenômenos estudados, de modo a classificá-los segundo um princípio racional, e nos métodos de análise, para construir uma descrição coerente, composta segundo os mesmos conceitos e critérios".

Assim, poder-se-iam recusar duas posições distintas: uma, ligada à gramática especulativa, que supõe uma lógica comum a todas as línguas. Esta perspectiva, cujos primeiros passos foram dados por Platão (Crátilo  ), afirma formas comuns no homem sem procurar os fundamentos de suas diferenças. Outra, ligada ao relativismo empírico, examina a "estrutura" possível de uma língua, o que reduz esta ao seu já realizado. Por isto Benveniste postula o uso da categoria de nível, pois só ela "é adequada para fazer justiça à natureza articulada da linguagem e ao caráter discreto de seus elementos; só ela pode nos fazer encontrar na complexidade das formas a arquitetura singular das partes e do todo". Só assim se poderia explicar como uma palavra liga-se ao mesmo tempo a várias categorias, segundo suas diversas características externas (fonéticas) e internas (semânticas). Mas não se deve deixar de frisar o avanço teórico que a gramática comparativa constitui em relação à linguística anterior. Por exemplo, Franz Bopp (1971-1867) procura por uma língua originária (Ursprache), cujos vestígios ainda se encontrariam no sânscrito, pois entende que a língua é um organismo vivo e teleológico: "as diversas línguas manifestam um esforço constante para combinar materiais heterogêneos, de modo a fornecer à audição ou à visão um todo perfeito..." E por isto se voltará contra as explicações psicológicas, preferindo as mecânicas.

As gramáticas contemporâneas procuram evitar o empirismo, tratando de construir teorias adequadas. Por exemplo, a de Noam Chomsky se aproxima dos postulados de uma teoria da comunicação matematizável. Ele define três modelos da linguagem falada: 1) — relacional ou teoria linguística minimalista. Gramática de estados finitos, onde uma palavra predeterminará as outras (como numa codificação onde as palavras se sucedem e podem ser estudadas numa cadeia markoviana); 2) — classificatória. Enquanto no esquema acima a linguagem falada é representada como um conjunto de redes interconectas, neste modelo estas mesmas redes constituirão classes. Por exemplo, a classe "frase" pode ser decomposta em sub-classes "expressões nominais" e "expressões verbais". Aqui ainda há a análise dos constituintes imediatos da linguagem falada; 3) — transformacional, e considerada a única adequada. Como dirá Chomsky: "Qualquer teoria científica é baseada num número finito de observações e visa relacionar os fenômenos observados e predizer novos fenômenos, através da construção de leis gerais em termos de constructos hipotéticos, tais como (na física por exemplo) ’massa’ e ’elétron’- Do mesmo modo, uma gramática do inglês é baseada num corpus finito de elocuções (observações) e conterá certas regras gramaticais (leis) determinadas em termos dos fonemas, frases etc. particulares ao Inglês (constructos hipotéticos). Estas regras expressam as relações estruturais entre as sentenças do corpus e o número indefinido de sentenças geradas pela gramática fora do corpus (predições). Nosso problema é desenvolver e clarificar os critérios para selecionar a gramática correta de cada linguagem falada, isto é, a teoria correta desta linguagem". Com isto ele recusa o positivismo  , já que a teoria é irredutível à sua base de verificação: "A gramática de uma dada língua deve ser construída de acordo com uma teoria específica da estrutura linguística, na qual termos como ’fonema’ e ’frase’ são definidos independentemente de qualquer língua particular". A gramática gerativa será construída como modelo matemático, através de um alfabeto e de regras de produção sobre este alfabeto. Seu problema essencial será o das relações entre a teoria geral da gramática e as diversas gramáticas particulares. Se se leva em conta a gramática gerativa-transformacional de Chomsky, vê-se que o próprio ponto de partida da gramática, a relação que ela estabelece teoricamente com seu objeto, requerem dela uma resposta funcional, necessariamente. Não se trata de aceitar ou recusar isto, mas mostrar que a noção de "gramática" pode ser aproximada da de "organização". Talvez seja este o problema crucial da grande maioria dos saberes sociais e humanos: estarem sempre referidos ao empírico.