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estruturas

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

Chaim Samuel Katz  
VIDE [Estrutura]

Termo muito em voga atualmente, seria impossível fazer sequer uma resenha das posições distintas nos vários campos do conhecimento. Mas para uma ideia geral podem-se tomar duas posições sobre o que é estrutura: a de Piaget e a de Lévi-Strauss .

Jean Piaget quer distinguir 1) o ideal crítico que gerou os diversos estruturalismos de 2) suas conquistas positivas. 1) No campo matemático, "o estruturalismo se, opõe à compartimentação dos capítulos heterogêneos encontrando a unidade graças a isomorfismos" (2eo, 6); na linguística deu-se primado à construção de sistemas enquanto na psicologia combateu-se o atomismo que procurava reduzir totalidades a associações entre elementos. 2) Através da ideia de estrutura encontraram-se dois aspectos comuns aos estruturalismos a — a estrutura é pertinente, basta-se a si própria e pode-se alcançar sua inteligibilidade sem recorrer a elementos que lhe sejam estranhos; b — na realização teórica de estrutura, há evidenciação de algumas características gerais: I — uma estrutura é um sistema de transformações, estruturante por conseguinte e não estática como a pensam alguns; II — a estrutura é independente da formalização do teórico, enquanto a formalização teórica só pode ser teórica; III — ela é uma totalidade e seus elementos só podem ser compreendidos em relação a ela, como momentos de sua transformação; IV — é auto-regulável, "acarretando sua conservação e um certo auto-fechamento". O leitor observará que esta tentativa de síntese será sempre frustrada. Aqui, por exemplo, Piaget propõe uma estrutura natural, existente (que fosse o nível vivido da comunicação) e uma outra estrutura construída, postulada (que seria, no assunto aqui tratado, uma teoria da Comunicação) . E deixa aberta a questão essencial: qual a relação entre estes dois tipos de "realidades", o existente e o teórico? Este é exatamente o problema da filosofia ocidental há mais de dois milênios e parece que seu defeito não está nas respostas mas no modo de perguntar.

Já Lévi-Strauss procura mostrar que o problema da estrutura não pode ser equacionado sinteticamente; com uma estrutura para todos os saberes e ciência . Ele diz que há ciências que podem encontrar seu objeto estruturado: no caso da genética "há correspondência rigorosa entre o procedimento de análise e seu objeto" (os gens no caso). Enquanto na antropologia as unidades elementares: 1) — podem existir; 2) — na maior parte dos casos não, pois não se pode postular a existência de uma classe definível extensivamente (ela só pode ser constatada). Ora — e o que interessa aqui não são os exemplos mas o modo de produzi-los — esta diferenciação de estruturas não parece muito adequada. Se se descobrisse com perfeição como o código genético modificará as células provocando o câncer, nem por isto se eliminariam as concepções de outro nível, da origem psicossomática do câncer, por exemplo. E em ambos os casos a estrutura será sempre postulada: os elementos da genética não existem linearmente, mas em relações. A identificação referencial de um elementos, visível no microscópio e palpável com bisturi, não poderá lhe determinar características de realidade, pois reais são as relações. E as relações têm que ser procuradas onde constituem um sentido: "Um ente vivo não se reduz a uma encruzilhada de influências. Donde a insuficiência de toda biologia que, por submissão completa ao espírito das ciências físico-químicas, que queria eliminar de seu domínio toda consideração de sentido. Um sentido dos pontos de vista biológico e psicológico é uma apreciação de valores por relação à uma necessidade". A questão da estrutura é que ela não pode ser postulada sistematicamente de modo homogêneo já que as relações que o homem estabelece não são absolutas pois dependem de reverificações permanentes. Se o referencial (ou "objeto" segundo a velha filosofia) examinado não for adequado o erro é teórico: a estrutura é sempre construída e isto implica em que é também construído o referencial e suas relações.

Segundo Lévi-Strauss "a noção de estrutura social não se relaciona à realidade empírica mas aos modelos construídos segundo ela". Propõe por isso distinguir estrutura social de relações sociais: "As relações sociais são a matéria-prima empregada para a construção de modelos que tornam manifesta a "própria estrutura social". Para que mereçam o nome de estrutura os modelos deverão satisfazer a quatro condições: 1) — "uma estrutura oferece um caráter de sistema. Ela consiste em elementos tais que uma modificação em qualquer um deles acarreta uma modificação de todos os outros"; 2) — qualquer modelo pertence a um grupo de transformações, das quais cada transformação corresponde a um modelo da mesma família, constituindo o conjunto destas transformações um grupo de modelos; 3) — tendo-se um grupo de transformações, pode-se saber como reagirá o modelo quando da modificação de um de seus elementos; 4) — "o modelo deve ser construído de tal modo que seu funcionamento possa dar conta de todos os fatos observados". Lévi-Strauss deveria acrescentar também que os "fatos observados" o são também num campo de significação que pode ser explicado num sistema. O fato observado bruto não existe: o etnógrafo (profissional ou não) que observa e crê apenas copiar os fatos que vê, recria-os de algum modo. Não há percepções transparentes: o olhar do homem, especialmente o olhar existencial, está dado nas condições, limites e possibilidades de sua cultura e de sua experiência.

Apesar das sérias restrições à aplicação de modelo à estrutura social, foi possível seu uso na análise sintática dos mitos, com resultados teóricos que abrem novos caminhos para o conhecimento do simbólico no homem.