Perenialistas
Charles-André Gilis  : DOUTRINA INICIÁTICA DA PEREGRINAÇÃO

A peregrinação islâmica ou hajj forma um conjunto ritual cuja complexidade, excepcional no Islã, se deve ao grande número de prescrições e interdições de todos os tipos aos quais o peregrino se encontra submetido assim como a diversidade dos lugares onde os ritos se cumprem; a sua duração também, que se estende sobre aproximadamente uma semana.

Segundo Ibn Arabi   a peregrinação é definida como sendo a «Demanda da Casa». A interpretação corrente dos comentadores do Corão tende a assimilar esta demanda a obrigação de ir a Meca e de fazer as circunvoluções rituais ao redor da Caaba. Embora legítima esta interpretação simplista omite um conjunto de ritos indispensáveis. Tomando um dito do Profeta, «a Peregrinação é Arafa», é possível entrever a importância de dois centros sagrados que são «Arafa» e a «Casa de Alá», em relação aos quais se situam e se ordenam em realidade todo o conjunto dos ritos de peregrinação.

Ibn Arabi acentua ainda que a peregrinação se dá em dois movimentos: horizontal, onde o servidor busca a Casa; vertical, onde o servidor busca aquilo mesmo que busca a Casa. Chega-se assim a uma interpretação propriamente iniciática, onde a «busca da Casa» pode ser considerada como devendo se cumprir, de uma maneira simbólica, em um sentido horizontal, posto que seu objeto está ligado a uma forma que é aquela da Casa ela mesma. Ora, segundo o ensinamento de Guénon, a forma é a característica da modalidade indiidual do ser humano, cuja extensão integral é precisamente representada pela «amplitude». Por outro lado, «a busca daquilo que busca a Casa» evoca o simbolismo vertical, seu objeto não sendo outro que o Conhecimento Metafísico supremo, a Marifa, ao qual faz referência a expressão, «Os Conhecentes por Eu». Assim se estabelece uma analogia entre estes dois movimentos, horizontal e vertical, e o sentido de «amplitude» e de «exaltação».