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epagoge

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

epagôgé: levar a, passar a, indução (socrática, aristotélica; para a «indução» platônica, ver synagoge). Aristóteles atribuía a Sócrates   a descoberta dos discursos indutivos. Segundo Aristóteles todas as crenças ou certezas (pistis) são formadas seja pela indução, seja pela demonstração. A epagoge é um processo de conhecimento que consiste em partir do particular para chegar ao universal, ou a passar do conhecido ao desconhecido.


Além disso, os λόγοι (discursos) são ensináveis e passíveis de ser aprendidos. Aristóteles pensa de início na fala natural. [36] Aqui, há um duplo tipo de fala. Quando os retóricos apresentam diante do tribunal ou em uma reunião popular um discurso público, eles recorrem ao entendimento geral das coisas, ao entendimento que todos conhecem. Em tais discursos, não se apresenta nenhuma demonstração científica, mas se provoca o surgimento de uma convicção nos ouvintes. Isso acontece διὰ παραδειγμάτων, por meio do fato de um exemplo concludente ser citado, δεικνύντες τὸ καθóλου διὰ τὸ δῆλον εἶναι τὸ καθ᾽ ἕκαστον (a8ss.): “eles indicam o universal”, que deve ser obrigatório para os outros, “por meio do fato de o respectivo ente ser evidente”, isto é, por meio de um caso determinado. Esse é o modo como se leva o outro a ter uma convicção. Esse caminho é a ἐπαγωγή (condução – a6), que é um simples levar a..., mas não um argumentar propriamente dito. Também se pode proceder, contudo, de tal modo que se tome o obrigatório e universal λαμβάνοντες ὡς παρὰ ξυνιέντων (demonstrando-o por meio do claro particular - a7ss.), a partir da compreensão natural, a partir daquilo que se sabe e daquilo com o que se concorda. Conta-se com determinados conhecimentos, dos quais os ouvintes dispõem e que não são ulteriormente discutidos. E é a partir deles que se procura demonstrar algo aos ouvintes por meio de συλλογισμός (silogismo – a5). O συλλογισμός (silogismo) e a ἐπαγωγή (condução) são os dois caminhos nos quais se pode levar o outro a um saber sobre determinadas coisas. A conclusão ἐκ προγιγνωσκoμένων (cf. a6), “a partir daquilo que já é desde o princípio sabido”, é o modo de comunicação da ἐπιστήμη (ciência). Portanto, é possível ensinar para alguém uma determinada ciência sem que ele tenha visto ou possa ver todos os estados de fato eles mesmos, contanto que ele disponha de pressupostos determinados. Essa μάθησις (esse saber) encontra-se formada da maneira mais pura possível na matemática. [...] Explicar aquilo com o que desde o princípio já nos achamos familiarizados é muito mais coisa da ἐπαγωγή (condução), do modo de esclarecimento do ver intencional propriamente dito. A ἐπαγωγή (condução), portanto, é evidentemente o início ou aquilo que descerra o ἀρχή (princípio); ela é o elemento mais originário, e não a ἐπιστήμη (ciência). Ela conduz de fato originariamente para o καθόλου (universal), enquanto a ἐπιστήμη (ciência) e o συλλογισμός (silogismo) são ἐκ τῶν καθóλου (a partir do universal) (Ética a Nicômaco VI, 3; 1139b29). Desse modo, carece-se em todos os casos da ἐπαγωγή (condução), quer permaneçamos simplesmente junto a ela, quer aconteça uma demonstração efetivamente real. [Heidegger  , GA19:35-36]
LÉXICO: epagoge; indução