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circum-ambulações

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

Sufismo
Charles-André Gilis  
Doutrina Iniciática da Peregrinação


Perenialistas René Guénon Guenon Orientacion - QUESTÕES DE ORIENTAÇÃO

Outra questão conexa à da orientação é a do sentido das "circum-ambulações" rituais nas diferentes formas tradicionais. É fácil perceber que tal sentido é determinado, de fato, seja pela orientação "polar", seja pela orientação "solar", na acepção que demos anteriormente a essas expressões. Se considerarmos as figuras adiante [1] o primeiro sentido será aquele no qual, olhando na direção do Norte, veem-se as estrelas girarem em torno do pólo (fig. 13). Em contraposição, o segundo sentido será aquele no qual se efetua o movimento aparente do Sol para um observador que olha na direção do Sul (fig. 14). A circum-ambulação se realiza constantemente com o centro à esquerda no primeiro caso, e, ao contrário, à direita (o que é chamado em sânscrito pradakshinâ). Esse último modo é o que se usa, em particular, nas tradições hindus e tibetanas, enquanto o outro encontra-se principalmente na tradição islâmica [2]. A essa diferença de sentido se liga igualmente o fato de avançar o pé direito ou o esquerdo em primeiro lugar numa marcha ritual: considerando ainda as mesmas figuras, pode-se ver facilmente que o pé que deve estar avançado em primeiro lugar é forçosamente o do lado oposto ao lado que está voltado para o centro da circum-ambulação, isto é, o pé direito no primeiro caso (fig. 13) e o esquerdo, no segundo (fig. 14); e essa ordem de marcha é, em geral, observada, mesmo quando não se trata de circum-ambulações propriamente ditas, como se assinalasse, de algum modo, a predominância respectiva do ponto de vista "polar" ou do ponto de vista "solar", quer numa forma tradicional dada, quer mesmo às vezes para períodos diferentes no curso da existência de uma mesma tradição [3].

Dessa forma, todas essas coisas estão longe de se reduzirem a simples detalhes mais ou menos insignificantes, como poderiam crer os que não compreendem nada do simbolismo nem dos ritos. Elas são, ao contrário, ligadas a todo um conjunto de noções que têm grande importância em todas as tradições e disso poder-se-ia dar ainda muitos outros exemplos. Caberia bem, a propósito da orientação, tratar também de questões como as de suas relações com o percurso do ciclo anual [4] e com o simbolismo das "portas zodiacais". Encontraríamos aí, além do mais, a aplicação do sentido inverso, que assinalávamos anteriormente, nas relações entre a ordem "celeste" e a ordem "terrestre". Essas considerações, porém, constituiriam aqui uma digressão demasiado longa e encontrarão, talvez, melhor lugar noutros estudos [5].


Observações

[1A cruz traçada no círculo, e da qual teremos que falar novamente mais adiante, assinala aqui a direção dos quatro pontos cardeais. De acordo com o que explicamos, o Norte é colocado em cima, na primeira figura e o Sul na segunda.

[2Talvez não seja sem interesse notar que o sentido dessas circum-ambulações, indo respectivamente da direita para a esquerda (fig. 13), e da esquerda para a direita (fig. 14), corresponde igualmente à direção da escrita nas línguas sagradas dessas mesmas formas tradicionais. Na Maçonaria, em sua forma atual, o sentido das circum-ambulações é "solar", mas parece ter sido, ao contrário, inicialmente "polar" no antigo ritual operativo, segundo o qual o "trono de Salomão" era, por outro lado, colocado no Ocidente e não no Oriente, para permitir a seu ocupante "contemplar o Sol em seu nascimento".

[3A interversão verificada a respeito dessa ordem de marcha em certos Ritos maçónicos é tanto mais singular quanto está em manifesto desacordo com o sentido das circum-ambulações; as indicações que acabamos de dar fornecem evidentemente a regra correta a observar em todos os casos.

[4Encontrar-se-á um exemplo da representação desse percurso por uma circum-ambulação nas considerações relativas ao Ming-tang, que exporemos mais adiante.

[5Sobre o caráter qualitativo das direções do espaço, que é o principio mesmo sobre o qual repousa a importância tradicional da orientação e sobre as relações existentes entre as determinações espaciais e temporais, poder-se-á também se reportar às explicações que demos em breve 1362 - Le Règne de la Quantite et les Signes des Temps, cap. IV e V.