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Androginia

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

Gnosticismo  
Madeleine Scopello  : Tradução de Antonio Carneiro   de excertos de "Les gnostiques"

A união no casamento desemboca sobre a androginia. Unindo, o homem e a mulher tornam-se um, e não mais terá nem homem nem mulher, mas só um ser.

A sexualidade, que de terrestre torna-se celeste na imagem do casamento, é reduzida a nada na unidade mística do andrógino.

A união andrógina repara a separação entre os sexos, intervindo durante a queda do elemento feminino na matéria (mito de Sophia). Esta separação arrastou à morte. O Evangelho de Felipe explica isso pela mitologia bíblica.

Segundo sua exegese, Adão e Eva no paraíso simbolizavam, pela união, um estado de conhecimento e de vida. Essa a cisão deles em dois seres separados foi que os conduziu rumo à ignorância e a morte:

Quando Eva estava em Adão, a morte não existia. Quando ela foi separada dele, a morte sobrevém. Se de novo ela entra nele e se ele a toma em si mesmo, a morte não existirá mais (NH 11,3 68,22-26).

O mesmo serve para o gênero humano:

Se a mulher não fosse separada do homem, ela seria morta com o homem. A origem da morte foi sua separação (ibid., NH 11,3 70,9-12).

Segundo o autor deste evangelho de Nag Hammadi, é o Cristo quem apaga a separação:

É porque o Cristo veio corrigir a separação que existia após o início, reuni-los, todos dois (homem e mulher) e vivificar aqueles que estavam mortos na separação e os unir (ibid. NH 11,3 70,9-17).

A busca do gnóstico chega ao fim no momento onde se restabeleceu a androginia perdida se unindo a seu duplo celeste, tais como a alma e o espírito. Precipitar-se no outro, encontrando-se a si mesmo, abre as portas do conhecimento:

Jesus disse: aquele que saciar a sede na minha boca tornar-se-á como eu, e, eu também me tornarei como ele e as coisas escondidas revelar-se-ão (breve 67488).

Nesta mística de identificação, um torna-se o outro e o outro se torna o um. O sujeito e o objeto coincidem, o revelador torna-se aquele a quem o conhecimento foi revelado:

Eu sou tu e tu és eu, e lá onde estás tu, lá eu estou. Eu estou disperso em todas as coisas e, quando tu quiseres, tu me reúnes, e em me reunindo, tu te reúnes a ti (Evangelho de Eva, citado por Epifânio, “Panarion” 26, 3,1).

Não somente em se tornando o outro se torna o um, mas em se tornando o outro se torna Um:

É preciso nos estabelecer no Um. (...) Fica tu pronta como uma esposa que espera seu esposo afim de que tu sejas o que eu sou, e eu, o que tu és. Instala em teu quarto nupcial a semente da luz. Receba de mim o esposo, faze-lhe lugar e ache lugar nele (liturgia marcosiana citada por Irineu de Lião, Contra as heresias I, 13,3).

A mística da identificação, abolindo todas as barreiras, anula todos os contrastes e as polaridades que caracterizam o mundo inferior. A coincidência dos opostos (“coincidentia oppositorum”) é o último recurso que tem o pensamento para exprimir o inexprimível e tornar a imagem de uma unidade, onde aquele que conheceu se tornará aquele que foi conhecido:

Quando fizerdes de dois um e que fizerdes o interior como o exterior e o exterior como o interior, e o que está no alto como o que está em baixo, e quando fizerdes o macho com a mulher, uma só coisa, de maneira que o macho não seja mais macho e a mulher não seja mais mulher, assim que fizerdes olhos no lugar de um olho, e uma mão no lugar de uma mão, e um pé no lugar de um pé, uma imagem no lugar de uma imagem, então entrareis (no Reino) (Evangelho de Tomé - Logion 22-23).