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Animus

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

Jean Borella  
Excertos traduzidos por Antonio Carneiro   de «La Charité profanée»

Se representarmos o psiquismo pela água, poder-se-á figurar a consciência pensante como uma luz refletida na água penetrando-a pelo menos até certo grau de profundidade. Esta imagem tem o mérito de mostrar que o pensamento é imanente ao psiquismo, e, no entanto, é nisso que se distingue, uma vez que não é de água. Esta luz psíquica nos parece corresponder ao termo latim: “animus”, que chamaremos: alma mental. R. Guénon sublinhou que a palavra mental (do latim “mens”) compreende a raiz indo-europeia “men” ou “man”, que designa homem. Com efeito, a consciência mental caracteriza o homem como tal e o distingue de todos os outros seres.

Não é fácil definir a alma mental. Trata-se de modalidade cognitiva do psiquismo. Utilizaremos para descrevê-la a imagem do espelho, pois, a natureza específica deste conhecimento nos parece ser seu caráter indireto. O mental « reflete » o que conhece, ou ainda, conhecer para ele é refletir seu objeto de conhecimento. O mental (ou o pensamento) não penetra no objeto na sua própria essência, mas, é de preferência o objeto que « penetra » nele, não em tanto quanto tal, mas, como uma abstração. O objeto « informa » a alma cognitiva, mas, recebendo nela esta informação a alma a reveste de sua própria natureza sutil. Entendamos bem: o que é conhecido, não é a abstração, é o objeto; mas, esse objeto é conhecido pelo modo de abstração. Se preferir, o mental é o « meio de refração » que atravessa o objeto para ser conhecido.

O conhecimento se efetua então pela « impressão mental »; o mental é o espelho refletidor do mundo. Assim como havíamos já observado a propósito da cultura, esse caráter indireto ou refletidor do conhecimento humano introduz entre o homem e o mundo o que Ruyer chama uma « distância psíquica » [1] que estabelece a possibilidade do símbolo. O inteligível, ou de preferência, a esse nível, seria necessário dizer o concebível, não existe somente nas coisas, mas, também de algum modo, « em si mesmo », graças ao conhecimento humano, o qual se pode dizer, de certa maneira, que atualiza ao estado separado, a modalidade inteligível das coisas. Não se trata somente de « pensar alguma coisa », mas de pensar em alguma coisa, ou sobre alguma coisa. Esta possibilidade do símbolo se realiza essencialmente na linguagem, que não consiste principalmente em exprimir alguma coisa, o que faz o animal, mas, em falar de alguma coisa, o que nenhum animal é capaz [2]. E, mais que falar de alguma coisa, é falar de alguma coisa que está « ausente » e que, por esta razão, se representa, se vê que o conhecimento mental implica não somente o pensamento conceitual, mas, ainda a memória e a imaginação, função da ausência no tempo e no espaço. Tudo isso, é “animus”.


Observações

[11. Cf. R. Ruyer, L’Animal, l’Homme et la Fonction symbolique, Gallimard, 1964 (vide: L’œuvre et la pensée de Raymond Ruyer par Alain de Benoist).

[22. Op. cit., p. 95. Todas as discussões sobre a linguagem animal repousa, seja sobre um mal-entendido, seja sobre o desejo de surpreender os ignorantes.