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Sharia-Tariqa-Haqiqa

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

Sufismo
Jean-Louis Michon: GLOSSÁRIO DA MÍSTICA MUÇULMANA

A «lei» [religiosa] (al-sharia) é a responsabilidade (taklif) que incumbe aos órgãos externos; a «via» [espiritual] (al-tariqa) é a purificação das consciências; quanto à «verdade» (al-haqiqa) é o fato de ver Deus (haqq - Al-Haqq) nas irradiações epifânicas.

A lei consiste a servi-lO; a via a ir para Ele; a verdade a contemplá-lO.

Desde o instante que Deus — haqq - Al-Haqq — manifestou sua luz (tajalla) entre os dois polos [da manifestação: diddan, seja: o mundo dos Nomes e Qualidades e aquele das formas], iluminando os lugares epifânicos da Majestade - Magnificência senhorial [e fazendo descer Sua radiação até] nos receptáculos da obediência, a «lei» e a «verdade» se tornaram manifestas. Assim a contemplação da Majestade - Magnificência enquanto tal é «verdade» enquanto o respeito das normas que convêm aos receptáculos, pela atenção - observância (ibada) e obediência (ubudiyya) é «lei». Quanto à «via», ela visa apurar as consciências para prepará-las a receber a iluminação das realidades divinas.

A lei visa portanto a apurar os órgãos externos, a via à apurar as consciências, enquanto a verdade embelece o fundo dos corações.

Alguns dizem que a lei é a essência da verdade, posto que ela é a obrigação divina, e que a verdade é a essência da lei, tendo sido prescrita antes desta.

Para os sufis, entende-se por sharia tudo aquilo que conduz a uma coisa, ou todos os meios de obter uma coisa. Assim, todos os meios (asbab) são «leis» e todas as metas são verdades; neste caso, o sensível é a «lei» do inteligível posto que este último é apreendido pela interpretação da primeira; o luta - combate interior é a «lei» da contemplação; a humildade é a «lei» da grandeza; a pobreza é a «lei» da riqueza, etc. Assim, o trabalho e a plantação são a «lei» da colheita, donde o dito: «Quem planta as leis colhe as verdades e quem planta as verdades colhe as leis». O segundo membro da frase significa que as verdades [quando elas se implantam no coração do homem] o fazem voltar às leis. Como o exprime o poeta: «Os frutos que colhes são aqueles que plantastes; assim o quer o costume do tempo [ a lei ordinária dos encadeamentos de causa e efeito]» (v. karma).

A palavra «sharia» tem com efeito o duplo sentido de «caminho» e de «lei religiosa revelada». A sharia é portanto o meio de se chegar à meta, que é o cumprimento da vontade divina ou a realização das virtualidades espirituais inerentes a todos os seres em geral e a cada um em particular. Este emprego da palavra é muito próximo daquele do termo sânscrito dharma que designa ao mesmo tempo, no hinduísmo e no budismo, a lei religiosa prescrita para todos os homens e o caminho que segue cada ser individual para alcançar a liberação (mukta, nirvana).