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quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

Perenialistas
Jean Canteins  : LES MYSTÉRES ET SYMBOLES CHRISTIQUES

O número cinco é, para os cristãos, não somente evocador das cinco chagas do Cristo mas ainda evocador dos cinco pregos da cruz. Lembrados por uma citação de Sulzberger, J. Carcopino se refere em dois momentos a uma passagem de Irineu de Lião   onde a devoção à cruz do santo bispo se exprime pela atestação de suas cinco «summitates», a saber: duas no comprimento, duas na largura e uma no meio. Tivemos ocasião a respeito da crucificação de Pedro, de salientar a importância do prego situado na interseção que serve para fixar o travessão horizontal ao vertical. O texto de Irineu concorda com aquele dos Atos de Pedro para salientar este prego central, o quinto prego misterioso sem o qual a cruz não se mantém. Surpreende, a princípio, que Irineu disponha os pregos nas extremidades de cada ramo: a iconografia nos habituou a contar um prego para cada mão e um prego para os pés, ou seja, três no total. Neste caso o prego da extremidade superior do ramo vertical seria aquele que serviu para fixar ou suspender a placa onde Pilatos fez traçar a inscrição INRI em três línguas.

Este quinto prego, tão esquecido que alguns exegetas ou historiadores não sabem nem localizar, impõe um problema se consideramos a confusão à qual deu a igualdade numérica das chagas e dos pregos. Que as mãos e os pés do Cristo foram fixados à madeira da cruz por três ou quatro pregos, em todos os casos estes provocaram quatro chagas nos corpo do Cristo. Ora, embora a quinta chaga seja dita feita pela lança do soldado Longino, pode-se perguntar se uma certa identificação não falseou o esquema tradicional a ponto de se superpôr, ver de se substituir a ele. Do coração do Cristo transpassado pela lança no centro da cruz atravessada pelo prego faz pouco, a separação é mesmo tão tênue que alguns a superaram como resulta de uma citação de Jérôme Cardan relatando uma cura miraculosa pela ingestão de pedaços de pão levando as cinco palavras do quadrado mágico. Esta ingestão é acompanhada de «cinco pais-nossos recitados em memória das cinco chagas mortais que o Cristo na cruz recebeu dos cinco pregos que o transpassaram» (De rerum varietate).

Embora J. Cardan não seja tão explícito quanto seu tradutor e não precise que se tratem de cinco pregos, há uma verossimilhança para que a reviravolta latina nec no proclavibus deva se entender como se a palavra quinque fosse repetida. Assim, as cinco palavras do quadrado mágico estão prenhes de um simbolismo quinário que concerne indistintamente as cinco chagas e os cinco pregos. E que não se creia que nosso matemático-filósofo comete uma extravagância, ou o que pensar de um antigo ritual etiópio publicado em 1929 por E._A._Wallis_Budge - Budge onde uma oração a Jesus Cristo faz dizer à Virgem: «Vos peço, ó meu filho bem amado..., eu vos demando pelos cinco pregos que transpassaram vosso corpo na cruz gloriosa e que são sador, alador, danat, adera, rodas...»?

Eis que não somente os cinco pregos geram as cinco chagas mas estes pregos recebem uma denominação e, precisamente, aquela fornecida pelas cinco palavras — embora deformadas mas reconhecíveis — que compõem o quadrado mágico! O quadrado torna-se assim mais que um símbolo quinário dos pregos e das chagas recapitulando a Crucificação em suas causas e seus efeitos, ele dela manifesta o esquema propriamente dito posto que as palavras que contêm designam efetivamente os «instrumentos» mais dolorosos ao mesmo tempo que os mais veneráveis da Paixão, aqueles que, em fixando o Cristo sobre a cruz, estiveram em contato mais íntimo com ele, quer dizer com seu corpo e seu sangue!