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cátaros

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

Excertos da tradução em português de José Antoino Ceschin do livro de Joan O’Grady, "Heresy: Heretical Truth or Orthodox Error? a Study of Early Christian Heresies"

Os cátaros, assim como os gnósticos, concentravam-se no uso de alegorias dentro da doutrina cristã. Para eles não havia a ressurreição da carne. Afirmavam que a verdadeira ressurreição encontrava-se no batismo espiritual dado por Cristo aos boni hornines. A morte não propiciava libertação alguma, a menos que o homem se tornasse uma nova criatura — um veículo do Paráclito, o Espírito Santo — do mesmo modo que Cristo o fora. Para eles, este mundo representava o verdadeiro purgatório e o inferno, já que era a antítese do mundo eterno da Paz de Cristo. E, também para os cátaros como para os maniqueus, a Crucificação teria sido simbólica, já que o relato sobre o sofrimento de Jesus era visto como uma descrição apenas simbólica da Alma Universal espalhada pela Natureza e que sofria por causa de sua associação com a matéria.

Todo o movimento era dirigido contra a Igreja católica, porque os cátaros, ou albigenses, como também eram chamados, acreditavam que a Grande Igreja se tinha afastado do verdadeiro ensinamento original sobre Cristo e de sua Revelação, tendo mergulhado no materialismo. Consideravam todo o sistema sacerdotal — a instituição do sacerdócio — como má e errada, porque só os boni hornines, os "homens bons", podiam liderar os fiéis para a Salvação, através da purificação.

As medidas tomadas para combater a heresia dos cátaros, ou albigenses, tiveram sua repercussão na história da Igreja. A necessidade de competir com a poderosa influência dos boni hornines cátaros talvez tenha sido um dos fatores que tornaram absoluta a regra do celibato para os sacerdotes. Mas foi a ação da Igreja para erradicar essas heresias por completo que provocou os efeitos mais abrangentes. As medidas incluíam o estabelecimento da Inquisição. O crime de alta traição contra Deus passava a ser especificamente comparado à alta traição contra o Estado, que seria a lei na Europa durante muitos séculos. Ambos os crimes estavam sujeitos à pena capital e, em ambos os casos, a tortura era permitida para que se obtivesse a confissão dos suspeitos. O Papa, no terceiro Concílio de Latrão, também proclamou uma Cruzada contra os hereges albigenses. O rei da França e os nobres franceses do Norte aproveitaram-se da oportunidade para demonstrar sua lealdade à Igreja e, ao mesmo tempo, levar a cabo sua política de dominar o Sul, a terra dos hereges. E isto foi feito com uma crueldade fora do comum.

As seitas dos cátaros surgiram muito depois do século V, mas é clara a sua descendência dos maniqueus e, por intermédio destes, dos gnósticos e dos marcionistas, cujas ideias assim foram transmitidas através do tempo. Até os Cavaleiros Templários, no século XIV, foram acusados de maniqueísmo. Portanto, apesar de estar fora do período englobado por este livro, a heresia dos cátaros encontra-se incluída aqui por causa de dois importantes grupos de questões, aos quais ela dá origem.

Com a erradicação dos albigenses e dos cátaros no século XIV, o maniqueísmo — como religião ou elemento gerador de seitas heréticas — acabou desaparecendo de vez, mas não desapareceu o seu princípio mais importante. Ainda existe o eterno problema do Bem e do Mal no Universo. A solução simplista dos maniqueus — os reinos opostos da Luz e das Trevas — ainda é a crença de muitos indivíduos, apesar de, na maior parte dos casos, não estarem conscientes disso. Claro que não se trata de uma doutrina cristã "ortodoxa". Mas a condição e o domínio do Príncipe das Trevas1 jamais foram definidos de maneira satisfatória. Teria a Igreja erradicado real e completamente a influência dos maniqueus?

A destruição dos albigenses e dos cátaros, juntamente com a Inquisição que surgiu daquela destruição, são exemplos das distorções que o cristianismo — chamado de "religião do amor resplandecente" — sofreu durante sua história. Assim, não pode ser evitado o segundo grupo de perguntas. Como seria possível a Igreja passar por um episódio sangrento como esse, mantendo uma tal instituição, e apesar disso o cristianismo ter sobrevivido? Será que, sem a supressão dessas seitas anti-sacerdotais e divisivas, uma Igreja institucional teria desaparecido? Mas, mesmo neste caso, teriam as distorções da religião cristã significado que seu desenvolvimento futuro poderia ser prejudicado?


Excertos e estudos
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