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sombra

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

Perenialistas
Julius Evola  
Para fazer ressurgir o vivo, é necessário que o morto morra. O simbolismo da morte, em geral, pode ser reconduzido ao simbolismo, já explicado, do «sono»; e considerando que este tem como significado o estado de consciência comum que se baseia no corpo, pareceria firmar-se a ideia — mais soteriológico-religiosa do que iniciática — de que o corpo é o mal, queda ou negação do espírito.

Verdadeiramente, indicações nesse sentido não faltam. Mesmo no Corpus Hermeticum   — para começarmos— o corpo é considerado como carga e prisão. Por isso, toda a alma se encontra carregada e agrilhoada: «por debaixo deste invólucro, ela luta e pensa— mas não são os pensamentos que ela teria se fosse desligada do corpo»; em vez de «energias», só conhece sensações e paixões que advêm dela através do corpo. Por isso, como condição prévia à consecussão da iluminação, da gnose, recomenda-se o ódio ao corpo, e diz-se: «Antes de tudo deves despir essa veste que trazes, essa veste de ignorância, princípio de todo o mal, cadeia de corrupção, envoltório tenebroso, morte viva, cadáver sensível, tumba que arrastas contigo, ladrão na tua própria casa, que através daquilo que ama te odeia, que através daquilo que odeia te prejudica. Aqui, em todo o caso, os símbolos de «veste», «tumba», «morte», «obscuridade» («sombra») são dados abertamente no mesmo sentido que tem de se lhes atribuir quando aparecem nos enigmas da literatura técnica alquímica. Eis algumas correspondências acerca da «sombra»: «Os corpos (no sentido dos sujeitos, sobre os quais a obra se exercerá) têm todos uma sombra e uma substância negra que se tem de extrair». Agathodaimon, a propósito do simbólico Cobre — o «metal» vermelho-amarelo mais facilmente transmutável em Ouro — , diz: «A alma é a parte mais subtil, ou seja, o espírito tintorial (que, tal como uma tinta difunde por todas as partes a própria «cor»); o Corpo é a coisa pesada e terrestre dotada de sombra. Zózimo, por isso, aconselha a trabalhar até que o Cobre não tenha sombra: «Suprimam a sombra do Cobre», repetem os árabes. «O Cobre passou a ser branco (passou à consciência de 9791 ) e foi libertado da sombra... Despojado da sua negra cor, abandonou o seu corpo opaco e pesado». -Comario, falando de um «espírito tenebroso» que oprime os corpos, repete quase textualmente o que vem no Corpus Hermeticum. Diz, então: «Corpo (no sentido primordial), Espírito e Alma debilitam-se por causa da sombra caída sobre eles». Pelasgio testemunha que só quando o Cobre abandona a sua sombra pode «tingir» toda a classe de corpos, o que, como veremos, coincide quase exactamente com a finalidade da Arte. Ainda mais explicitamente o Cosmopolita diz que se trata de arredar as trevas e chegar a ver a Luz da Natureza, que escapa aos nossos olhos, já que para os nossos olhos o corpo é a sombra da natureza.

Se todas estas indicações não estivessem condicionadas por nenhum significado ulterior, teriam um carácter suspeito sob o ponto de vista iniciático. Sendo o corpo, no sentido lato, a expressão e, ao mesmo tempo, base da individuação, trata-se de superar uma concepção evasiva e místico-panteísta pertencente mais ao âmbito das religiões que ao das iniciações. Apesar disso, na doutrina hermética encontra-se também uma série de expressões de espírito muito diferente.