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Sintema

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

A NECESSIDADE DA PALAVRA «SINTEMA»
Por isso, parece-me importante recomendar o uso da palavra «sintema» [1] para designar, em geral, todo o sinal arbitrário e «convencional» cujo sentido unívoco e constante é voluntariamente fixado pelas partes que comunicam entre si através dele. Posteriormente, especificarei a sua etimologia e definição. Podemos, com efeito, distinguir assim mais facilmente, por um lado, o sintema do símbolo e, por outro, o sintema do signo «linguístico» propriamente dito, no sentido saussuriano. Com efeito, este último é arbitrário não em função duma «livre escolha» do significante pelo sujeito falante, mas na acepção de «imotivado» em relação ao significado, pois não possui qualquer ligação real com ele. O uso da palavra «sintema» acrescenta assim à noção de «arbitrário», as de «livre escolha» e de «convenção» que não são expressas por mais nenhuma palavra da língua usual.

No entanto, existe uma diferença essencial entre um signo ligado a uma coisa ou a uma ideia através duma convenção que pode ser modificada por uma decisão inicial das partes que têm poderes para decidir sobre isso e um sinal ligado a uma coisa ou a uma ideia através duma relação independente dessa convenção. Decidiu-se, por exemplo, designar o oxigénio pela letra O, mas poder-se-ia ter escolhido a letra G, estipulando-se que o sinal G, nas reações químicas, teria o sentido previsto. Eis porque Jean Piaget observa acertadamente que um símbolo «se deve definir como um laço de semelhança entre o significante e o significado, ao passo que o ‘signo’ é ‘arbitrário’ e assenta necessariamente numa convenção. O sinal exige, pois, a vida social para se constituir, ao passo que o símbolo pode ser elaborado por um indivíduo só, como sucede nas brincadeiras das crianças. Por outro lado, é evidente que os símbolos podem ser socializados, sendo um símbolo colectivo, em geral, meio-sinal, meio-símbolo; em contrapartida, um sinal puro é sempre colectivo» [2].

É pois graças a uma extensão injustificável de sentido que os lógicos e os matemáticos falam de lógica «simbólica» ao passo que, segundo as próprias intenções de Gottlob Fregge, o seu verdadeiro criador, se trata antes duma lógica tipicamente «ideográfica» e puramente convencional, que não implica qualquer «resíduo» intuitivo ou subjectivo. Por isso propus, em 1958, restituir à palavra grega synthema, do verbo sundesmeo, «ligo em conjunto», um uso metódico para designar todos os sinais convencionais, chamando-lhes sintemas, objeto duma disciplina particular e nova, a sintemática. Voltarei mais tarde a falar nesta questão, mas parece-me indispensável acentuar desde já a importância de que se reveste. Efetivamente, ela permite distinguir claramente a simbólica da sintemática e a sintemática da linguística. Dediquei dois capítulos ao estudo destas relações e destas noções.


Observações

[1Esta palavra foi utilizada pela primeira vez em 1958 na minha obra, De la nature des symboles.

[2J. Piaget, La psychologie de l’intelligence.