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bestiários

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

Antes de visitar nossas páginas recomendo circular pelo site da linda exposição BESTIÁRIOS DA IDADE MÉDIA, organizado pela Biblioteca Nacional da França, assim como visitar o site canadense sobre os BESTIÁRIOS MEDIEVAIS.

Para compreender a importância dada aos animais enquanto símbolos vivos, podendo ser transpostos para representações sacrossantas de aspectos transcendentes de nossa vida na Terra, recomendo esta reflexão a seguir feita a partir de Pierre Gordon  , Gordon Imagem Mundo - A IMAGEM DO MUNDO NA ANTIGUIDADE:

Um dos caracteres fundamentais da religião neolítica, sobretudo nos Grande Mãe - grupos matriarcais e no ciclo cultural da grande caça: a saber, a sacralização dos animais. Esta sacralização, que se deu frequentemente junto com sua imolação, conduziu ao revestimento do despojo animal como meio de santificação ou de divinização. Mais tarde, o porte do despojo animal foi substituído pelo ajuste de uma máscara, mas esta conservou durante muito tempo o caráter transcendentalizante da pele sacrificial. Estes disfarces rituais não eram então, em absoluto, o que seriam para nós. Eles possuíam um valor ontológico [1]. Um homem vestido de uma pele de cão, de lobo, de leão, de touro, de serpente, de pássaro, etc., etc., cessava de ser um homem. Ele se tornava um personagem sagrado, se integrando na sobre-natureza em qualidade de cão divino, de lobo, de leão, etc., etc. Aí estava seu grau na hierarquia dos seres superiores; e, para bem demarcar que ele não pertencia mais à humanidade, ele utilizava unicamente, quando estava disfarçado, a língua do animal sacrossanto do qual encarnava a essência eterna [2]. Leão, ele rugia; cão, ele latia ou uivava; cavalo, ele relinchava, etc...

Estes homens-animais foram, por excelência, as personalidade divinas da Idade de Prata e do primeiro período da Idade de Bronze. Eles retiveram este caráter até nossos dias em numerosos povos da etnografia. Em seguida eles evoluíram frequentemente em personagens demoníacos, por causa de seu papel como "atormentadores nas cerimônias iniciáticas. Eles foram igualmente vistos como Espíritos, Fantasmas, Gênios ou Mortos. Um homem mascarado, repitamos, não era mais um homem; sua camuflagem litúrgica o incorporava ao reino da energia invisível; ele fazia parte do além, do qual era uma manifestação terrestre.

Importa, por outro lado, jamais perder de vista que os homens travestidos em animais eram sempre mencionados exclusivamente como animais. As aventuras de um homem-leão eram portanto atribuídas a um animal selvagem. Eis aí o que torna incompreensíveis, em uma primeira abordagem, tanto os relatos, onde se encontram em causa, sob o nome de um animal, um grande iniciado, um verdadeiro homem superior, divinizado pelo despojo sacrificial ou a máscara ritual de um animal [3].

Por outro, lado, a veneração para com um homem-animal (identificado a um animal) pouco a pouco engendrou a zoolatria, quer dizer o culto dos animais. No início, não se adorava senão o animal sobre-naturalizado pelos ritos, em outros termos, o animal tornado o repositório da mana - energia transcendente, e se adorava ele sobretudo no homem que se identificava a ele em revestindo o despojo. Insensivelmente, em seguida por conta do processo concretizante habitual, se reverenciará os animais vivos. O totemismo foi no ciclo cultural da Grande Caça, uma aspecto particular desta latria.

VEJA A SEGUIR: Bestiario de Cristo - BESTIÁRIO DE CRISTO

Observações

[1É meu entendimento que esta reflexão possa ser estendida para explicar, posteriormente, a razão do uso de figuras estilizadas de animais nos Sorval Heráldica - brasões.

[2vide as notáveis reflexões de Marius Schneider sobre a Música Imitativa.

[3Seria interessante uma reflexão sobre estas considerações no tocante aos Contos de Fadas e Fábulas