Página inicial > Termos e noções > descida aos infernos

descida aos infernos

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

Perenialistas
EL MITO DEL DESCENSO Y EL MITO DEL ASCENSO

Pierre Gordon  : L’IMAGE DU MONDE

O cristianismo proclamou um duplo dogma. Seu credo afirma a respeito de seu fundador: descendit ad inferos, tertia die resurrexit a mortuis, ascendit ad coelos. Encontramos assim, solenemente afirmados como fatos autênticos os dois pontos essenciais do iniciatismo neolítico: a descida aos infernos, a subida ao céu, quer dizer os dois ritos, que foram na imagem antiga do mundo, a origem das partes inferiores e superiores a nossos horizontes terrestres.

A descida do Cristo aos infernos não poderia, evidentemente, se entender pelo inferno - inferno cristão, que oferece um caráter totalmente diferente dos infernos. É indubitavelmente nos infernos pagãos que Jesus o Nazareno estadiou; e é por aí de resto que se afirma de uma maneira expressa, por aproximação com os ritos iniciáticos anteriores, como o Salvador - Grande Liberador da humanidade. A ideia cristã a seu respeito parece ser a seguinte: depois de ter, por sua morte no topo da nova Montanha, ou Calvário - Montanha do Calvário, reabsorvido o cosmos das sensações na luz da matéria eterna, e concedido ao pensamento humano seu nível de origem, desce a aplicar temporalmente o benefício desta vitória às gerações passadas, que a virtude extratemporal de sua crucificação tinha além do mais já liberado, por intermédio dos liberadores pagãos: estes, com efeito, se refeririam a ele e tinham de sua transcendência, seus poderes. Depois da Natividade - adoração dos Magos, nenhum detalhe é mais revelador das relações estreitas que articulam o iniciatismo cristão ao iniciatismo antecedente, o mundo subterrâneo novo àquele de Urano, de Kronos e de Zeus Pode-se verdadeiramente falar de uma identidade. Vemos aqui o ecumenismo neolítico se integrar no ecumenismo cristão. Nenhum dogma é a este respeito mais luminoso. Jesus Cristo, como milhões de seres humanos antes dele, mergulha no mundo subterrâneo, e aí permanece três dias. Ele se conforma assim estritamente às regras postas pelo antigo sacerdócio, tais quais a prática iniciática das eras recentes tinha pouco a pouco amenizado. Mas não é segundo o cristianismo, um organismo espacio-temporal que Jesus aporta. Muito menos é como morto que ele aí penetra. Ele aí faz sua aparição como o super-homem vivente, como o único Vivente da terra, como o ser que tem por organismo a matéria radiante. Ele não vem, como os outros, buscar no mundo oculto a luz e a vida. Ele aí introduz, ao contrário, para sempre, a vida e a luz liberadoras. Ele é esta luz e esta vida, de que todas as gerações são vindas, desde o início das eras humanas, se impregnar nas cavernas. Ele realiza em outros termos com plenitude no seio do tempo a claridade que as iniciações anteriores não percebiam senão além das flutuações físicas. — Lidamos portanto indiscutivelmente com o mesmo iniciatismo fundamental. Movemo-nos sempre no mesmo círculo de ideias. O ritual de morte e ressurreição não muda. Mas não são mais as trevas que percebemos de pronto, nas dobras do mundo subterrâneo; seguindo as visões do cristianismo, é o brilho de um eterno sol; e descobrimos subitamente isto que era o ouro puro, que irradiava aí desde o começos dos tempos. Chegamos a compreender porque este mundo-de-sob-a-terra foi , para tantas pessoas, a fonte da juventude, a fonte da beatitude, o único princípio do conhecimento e da força; sabemos doravante que a radiância aí residia autenticamente; e ela aí residia, segundo o cristianismo, desde o primeiro homem, porque, nos tempos do imperador romano Tibério, o super-homem encarnado devia após sua morte na cruz, preencher durante três dias de seu brilho o antigo universo das iniciações.

A subida aos céus demandaria observações análogas. Ela nos faz assistir à integração da energia radiante. A divinização litúrgica que se praticava no topo das montanhas sagradas, depois de uma ascensão por vezes difícil ladeada do homem-pássaro ou do homem-sol, era um rito. Vemos aqui, segundo o cristianismo, a que realidade respondia.