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Cruz Universal

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

Perenialistas
Roberto Pla  : breve 8887

O que há de ter bem presente é que além da Cruz - cruz visível na qual foi levantado Jesus, há uma cruz invisível na qual o mundo pode crucificar e levantar o Filho do Homem, embora o que se crucifica é o Cristo oculto - Cristo interior, oculto, e o que aparece exaltado é o Filho do Homem. Mas tudo isto há que ser explicado.

A eficácia da cruz responde a sua universalidade, pois é seguro que foi parte do plano divino no ato da criação. A cruz invisível e universal aludia Jesus quando dizia a todos: “Aquele que não porte a cruz e me siga não pode ser meu discípulo” (Odiar tua alma - Lc   14,27).

Portar a cruz significaria carregá-la sobre si e empreender a via amarga que consiste em crucificar o mundo em si mesmo e levantá-lo até a redenção. Pelo contrário, quem resiste a portar a sua cruz, termina crucificado no mundo. Se poderia dizer que quem consente em ser crucificado, crucifica ao mudo e o que se nega, é crucificado pelo mundo. Isto, ao menos, é o que explicava uma anônimo cristão primitivo: “Bem-aventurado o que crucificou o mudo, e não aquele que o mundo o crucificasse nele” (Livro I de Jehu trad. Henri-Charles Puech  ).

A cruz é, enquanto símbolo universal e em realidade interior, o limite entre o mundo e o reino celestial, a árvore do conhecimento da Pleroma - Plenitude do Pai. Os que “se fizeram” filhos de Deus, sobem à cruz para abandonar o mundo no qual deixam para sempre suas já inúteis vestimentas.

Na morfologia do signo da cruz viram os primeiros cristãos da dupla função da cruz, conformada pela extensão (gr. bathos): altura e profundidade; e amplitude — e longitude — (gr. platos), mercê a cujas dimensões é possível conhecer o amor de Cristo que excede a todo conhecimento (Ef 3,18). De Cristo oculto, como plenitude de Vida que habita no homem, e de Cristo manifesto na cruz para transcendê-la.

A extensão, é o firmamento que circunscreve como uma lâmina de bronze a abóboda celestial, e a separa do mundo, pois se estende sobre ela. O mundo é o criado; o de em cima é o ingênito. Na cruz, este é o traço horizontal, o “horos”, que divide o universo no de acima, invisível, e o de abaixo, visível. No interior, é o véu, que impede a comunicação com a Pleroma - Plenitude. É o Espírito fronteiriço que há que remontar para chegar ao reino da luz.

Ao “horos”, se agrega na cruz, e para que seja cruz, o traço vertical (stauros), mercê ao qual há um caminho que comunica o mundo com a região celestial. Ele é a altura, em cuja cabeça é possível a união, pois a função de “stauros” é unir. Por isso se diz que o que não atravessa a cruz não ingressa no reino.

Aplicando o sentido interior, verdadeiro, o que tudo isto significa é que há que levantar o Filho do Homem na cruz invisível que se construiu em si mesmo. Há que “elevá-lo” pelo traço vertical, stauros, que confere altura, embora não em sentido espacial, senão objetivo. Ele é o único que permite atravessar a abóboda do céu interior, o da alma, e assumir a consciência ao reino superior, na outra margem, própria do ingênito.

O caminho de “stauros” é o da glorificação do Filho do Homem, e é feito de nadificar a alma. Já se sabe, porque foi dito: só o que morre dá fruto. Por isso, o que ama sua vida (a da alma), a perde, mas “o que odeia sua alma neste mundo, a guardará para uma vida eterna” (Jo 12, 24-25).

Só quando a alma cessa, quando está a “ponto de morrer”, aparece preparada para entrar em serviço do Filho do Homem. Por isso, ainda que a alma “rico - rica” em vida mundana, o diz Jesus: “a onde eu vou vós não podeis vir” (Jo 13, 33), agora adverte a todos que fazer-se servidor seu é segui-lo e então, onde ele esteja estará também seu servidor.

Assim pois, o primeiro é descobrir a parousia - presença do Espírito Santo - Espírito que está em nós. Desta parousia - presença se diz que advém pela graça - graça de Deus, mas o que advém é o descobrimento, porque a parousia - presença é eterna, uma graça que é concedida a todo homem desde o momento em que vem ao mundo.

Depois há que vigiar, estar atento, para que o Espírito Santo - Espírito possa derramar sua unção sobre o espírito até que nasça o Cristo oculto. Se diz “nascer”, mas é dar-se conta de que está.

O último, e isso é o que intentamos explicar agora, é levantar o olhar desde o Messias - ungido do Senhor até contemplar a Glória do Filho do Homem. Se começa por “olhá-lo” imperfeitamente, tal como somos nós, mas quando o olhar se levanta ao Filho do Homem até a perfeição, então é visado, não como somos nós, senão “como ele é”, como uma mar de fogo que alcança à Plenitude. Isto é o que quer dizer o evangelho quando afirma: “Então sabereis que eu sou”.