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ruptura do ser

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

Perenialistas
Pierre Gordon  : Gordon Primitivos - A REVELAÇÃO PRIMITIVA

O desnivelamento que assolou o homem ao nível de monstro cósmico, pode se resumir na fórmula seguinte: o homem é um Eu feito para possuir o ser, e que se arrancou momentaneamente a faculdade de se apropriar dele. Todo o resto parafraseia este ponto fundamental. Descosturado do ser, ele vive à margem da realidade, aparte das essências, em um mundo de cabeça para baixo, onde o ser passa por não ser e o nada das aparências por existir, — onde a inteligência, aprisionada no corpo, parece um reflexo ou uma fosforescência deste, ela que é ao contrário a luz da qual ele oferece a reverberação. — onde a sensação, que nada é sem o pensamento, impõe a este último sua carga, — onde a morte se chama a vida, — onde o soberano se transforma em escravo e leva uma existência mais infeliz que o mais humilde dos súditos, — onde a alegria, desfigurada em prazer, engendra, de estado teratológico - forma teratológica, o sofrimento, — onde o egoísmo e a podridão estão instalados no trono radioso do Amor. Em outros termos, o homem está em servitude, e não sabe mais amar. O Amor, com efeito, como a Verdade, como a Beleza, como o Bem, se define pela possessão do ser. Estas diversas noções, filhas do mundo puro, que se deslocam, se dissociam e se espalham aqui em baixo em consequência do divórcio primordial infligido a nossa inteligência, se cingem, e se confundem até se dissipar, na unidade suprema, desde que a alma, de novo, se case ao Real e dele receba para sempre o anel nupcial. Verdadeiramente, pelo fato de que nossas ideias estão sujeitas a um circuito para juntar-se à existência (sem ter a princípio a certeza de aí chegar), e que nosso pensamento, substância totalizadora de nossas ideias, deve em seguida empreender ele mesma uma dura viagem para abraçar o ser, no qual no entanto ele respira, nos alinhamos entre os seres verdadeiros. O ritmo íntimo de nossa vida não é mais o deles: é este da animalidade terrestre. O amor se torna acoplamento espacial, e a liberdade, mecanismo de instintos, assim como a ideia se atolam na imagem. E além do mais falseamos este ritmo calmo inferior em clausurando-o no ritmo superior dos seres livres, de sorte que alcançamos a uma cadência e a um amor sem razão, que não responde a nada, nem ao não-ser nem ao ser. Somos assim, frequentemente, a ferrugem e o cancro do universo.

  • Gravidade Ruptura Ser - GRAVIDADE DE UMA RUPTURA COM O SER