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Santa Face

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

Perenialistas
Jean Canteins  : MYSTÉRES ET SYMBOLE CHRISTIQUES

Leonid Ouspensky   (Meaning of Icons) afirma: o cristianismo é não somente a revelação, por Deus-Homem, do Verbo - Verbo de Deus mas ainda, e igualmente, aquela da Imagem de Deus. Sabemos pelo testemunho ocular de Eusébio (séc. III) que existia desde seu tempo representações de Jesus, de Pedro e de Paulo. Por volta desta época, ou mais tarde, a tradição escrita, tornada evidentemente apócrifa, fez menção do episódio evangélico da hemorroíssa para produzir o testemunho de uma certa Bernice (gr. Bernike; copta, Beronice; latim, Veronica). É ela que, milagrosamente curada de seu (fluxo de sangue) pelo simples toque do manto de Jesus, teria se reapresentado aos pés do Cristo em sua cidade natal de Paneas.

Sobre um quadro histórico tão sumário, a tradição cristã posterior gravou um relato legendário mais elaborado do qual fazem eco textos latinos tardios como a Morte de Pilatos — do qual se inspirou a Legenda Dourada — e particularmente a Vindicta Salvatoris (Vingança do Salvador).

O relato da experiência teofânica de Verônica é simples. Quando Jesus estava sendo conduzido ao Golgotha, ela teria, por comiseração — sem medo de represálias, ataques e outras brutalidades possíveis da parte dos soldados romanos e carrascos que escoltavam Jesus —, ousado se aproximar dele para enxugar seu rosto coberto de sangue, de suor, talvez também de lágrimas e de pó. Que se admire sua coragem em desafiar a soldadesca ou sua piedade por Aquele que andava em suplício, foi de todo modo, da parte desta humilde mulher, um ato altamente meritório que o Céu soube reconhecer por um fenômeno naturalmente inexplicável: sobre o fino pano que Verônica utilizou a imagem de Jesus aí permaneceu fixada, maravilhosamente reproduzida por simples contato; como se o sangue, o suor, etc. do Cristo, misturados ao pó, tivessem sido os ingredientes da confecção instantânea de seu retrato. Trata-se de um milagre sobre o qual a tradição cristã fundará a doutrina da produção acheiropoietos, «feita sem intervenção manual» da imagem sagrada da Santa Face, o ícone por excelência que se acha não ter requerido nenhuma mão humana para sua realização. Esta exclusão mostra que as circunstância nas quais o retrato de Cristo foi deixado a Verônica supera a medida humana e o condicionamento terrestre; o que São Paulo   disse em sua segunda Epístola aos Coríntios a respeito da parábola das «casas» terrestre e celeste poderia se aplicar ainda melhor que o Apóstolo definiu igualmente a segunda como «não feita de mão de homem». A «casa» da qual se trata é o corpo; uma, material, é o corpo «animal» ou carnal; criada, quer dizer engendrada pelo homem, ela é suscetível de destruição; o outro, imaterial, o corpo «espiritual», é o acheiropoietos pois ela é a obra de Deus e como tal indestrutível.