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sujeito do pensamento

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

O problema medieval da identidade do sujeito pensante, definido como problema do sujeito do pensamento, se situa aquém de qualquer teoria do "eu". A teoria medieval da alma não procede nem da evidência inicial de um "eu penso", nem do simples reconhecimento do caráter essencialmente problemático do encontro com o inteligível, mas do poder de choque próprio da teoria aristotélica do intelecto, como a apresentam as páginas extremamente enigmáticas do De anima, III, 5, interpretadas a partir de al-Farabi, Avicena   e Averróis  .

Se a psicologia de Abelardo conhecia, pelos comentários de Boécio  , a tese aristotélica da sujeição do pensamento humano finito à imaginação, e, pela Consolação de filosofia, uma primeira forma de distinção entre o pensamento humano (intellectus) e a intelecção pura (intelligentia), capaz de caracterizar (forte: "talvez") um pequeno número de homens dotados pela "revelação divina" de um poder de contemplação que se ultrapassa a si mesmo (excessus contemplationis), essa forma de "inteligência" lhe parecia, "nas próprias palavras de Aristóteles inacessível nesta vida" (Tractatus de intellectibus, 64v-65r). Com sua distinção entre uma instância intelectual puramente receptiva, o intelecto paciente ou possível, "capaz de tornar-se tudo", e uma instância intelectual puramente produtiva, o intelecto agente, "capaz de tudo produzir", a tradução do De anima ia propor um novo modelo aristotélico, levantando logo o problema psicológico em termos de origem simultaneamente imanente e transcendente do ato de pensamento.

Do aparecimento do Uber sextus de naturalibus sive de anima de Avicena às polêmicas suscitadas pela difusão maciça do Grande comentário sobre a alma de Averróis, a questão levantada pelo De anima de Aristóteles é a questão da origem do pensamento intelectual, noético, intuitivo, que domina a composição e a divisão dos conteúdos de pensamento, onde se realiza a simples razão discursiva. Acima das formulações diversas e das diferenças de doutrina que opõem entre si os intérpretes greco-árabes de Aristóteles, um tema, diretamente saído do complexo de problemas deixado sem solução pelo De anima, trabalha o conjunto das leituras e dos comentários: é o homem o sujeito do pensamento? Ou seja, nos termos em que as condenações parisienses de 1270 e 1277 fixarão definitivamente a problemática: é o próprio homem que pensa? A partir do século XIII, essa problemática vai, simultânea e contraditoriamente, provocar o questionamento da legitimidade da análise filosófica como tal, permitir a constituição da psicologia como ciência e promover um ideal de vida filosófico autônomo. (Excertos de Alain de Libera  , Filosofia Medieval)