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Hekhalot

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

O desenvolvimento da corrente esotérica é-nos dado a conhecer através da multiplicação dos tratados de inspiração mística, os mais importantes dos quais remontam ao século IV e ao século V. Designamo-los sob o nome de «Literatura dos Hekhalot», porque se trata na maioria das vezes de especulações sobre os «palácios celestes» ou Hekhalot e, portanto, sobre a estrutura dos mundos divinos.

É a grande visão do carro divino — Merkaba — recebida por Ezequiel e citada no primeiro capítulo do seu Livro que constitui a trama destes escritos. Trata-se, ao nível da experiência pessoal, de chegar a esta visão, a do Profeta, e, para este fim, realizar em direção ao trono divino (Merkaba) uma ascensão, a mais vertiginosa das ascensões, que, no estilo dos tratados, é designada com o nome de «descida»: a descida em direção à Merkaba, gigantesca empresa para a qual se tem de contar com sete etapas.

Cada etapa é constituída por um Templo ou Palácio — distinguem-se tradicionalmente os Grandes Palácios, Hekhalot Rabbati, e os Pequenos Palácios, Hekhalot Zutarti —, cujas portas estão ciosamente guardadas por oito seres celestes. Aquele que chega ao sétimo palácio é aí aguardado por temíveis guerreiros com olhos de fogo, armados de espadas cintilantes, montados em «cavalos de sangue e de granizo, que se dessedentam em rios de fogo». Mas, graças a todo um arsenal de fórmulas e de amuletos, as portas acabam por se abrir e o feliz peregrino é escoltado pelos anjos até ao Trono de Deus.

Estamos em presença de uma espécie de iniciação «por andares», na qual cada um corresponde a um degrau na hierarquia das multidões angelicais; cada andar corresponde a um aprofundamento da existência espiritual. Foi deste modo que o Rabi Aqiba, informando o Rabi Ismael do seu próprio itinerário, pôde relatar-lhe «Quando entrei no primeiro palácio, era devoto (hassid); no segundo, puro (Tahor); no terceiro, sincero (Yashar); no quarto, estava em união com Deus (Tamim); no quinto, apresentava provas de santidade diante de Deus; no sexto, dizia a qedushah (...) diante d’Ele, cuja palavra criou o mundo...; no sétimo, empenhando todas as minhas forças, com todos os meus membros tremendo, disse a seguinte oração: «Glória a Ti que estás nas Alturas! Glória ao Sublime que permanece em grandeza!».»

Os Hekhalot encontram-se, por outro motivo, em relação estreita com outras escritas místicas, tais como o Livro de Henoch e o Shiur Qomah.

O Livro de Henoch carateriza-se por uma espécie de identificação entre Henoch (cf. Gênese, V, 18-24) e uma personagem chamada a desempenhar um papel de primeiro relevo na literatura da Cabala  : trata-se de Metatron, o chefe dos anjos, o «príncipe do universo», «único entre os filhos do céu», encarregado das riquezas e tesouros do universo e que tem nas suas mãos as chaves de tudo aquilo que existe.

Quanto ao Shiur Qomah, é um escrito onde Deus é representado sob uma forma humana, com uma prodigalidade de medidas e de cálculo que nos introduzem já numa mística de números bastante importante para a mentalidade cabalística, mas cuja descrição «monstruosamente antropomórfica» da divindade irá provocar tempestades de indignação. [René de Tryon-Montalembert e Kurt Hruby]