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tiqoun

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

O Tiqoun que significa «reparação», «restauração» ou «reintegração» é o processo pelo qual a ordem ideal é restabelecida; é a terceira fase fundamental do grande ciclo proposto por Isaac Louria.

O «rompimento dos vasos» é um defeito que requer reparação; a criação do lado divino como do lado humano deve entrar em um processo de Tiqoun. Deve-se conduzir as coisas a seu lugar e sua natureza própria. A reparação não pode se fazer por ela mesma, é ao homem que incumbe a responsabilidade desta etapa. O homem se torna responsável da história do mundo. A filosofia da história de Louria se torna assim uma filosofia engajada onde o homem adquirir um lugar central.

O homem e Deus se tornam associados na criação. É verdade que depois do «rompimento dos vasos», Deus revelou novas luzes e já começou a reparar o mundo, mas esta reparação não terminou. O mundo certamente não se encontra reparado pela ação divina.

O ato decisivo foi confiado ao homem.

Pode-se dizer que a história do homem é a história do Tiqoun.

A história do homem é a história do Tiqoun, quer dizer a história do malogro do Tiqoun.

Sem este malogro, a História ela mesma não existiria e o homem estaria na situação do filósofo ao final da «fenomenologia do espírito» de Hegel, seria um ser completo, quer dizer morte.

A «consciência infeliz» de que fala Hegel para descrever a «consciência judaica» é justamente o que faz sua felicidade, sua sorte e sua vida.

A impossibilidade do sucesso do Tiqoun, desta espera da reparação, define o homem como um ser «a-ser» do qual a ética não é mais aquela da perfeição, mas da perfectibilidade.

Ao nível dos textos do Rabi Isaac Louria, encontra-se a ideia de um primeiro ensaio do Tiqoun com Adão Harichone, Adão o primeiro homem. Adão deveria ter reparado o mundo, mas ele não completou sua tarefa. Se o tivesse feito, a Gênese teria conduzido imediatamente ao estado messiânico, o que quer dizer que não teria havido desenvolvimento histórico. O exílio cósmico teria tido fim, Adão tendo sido então o agente da redenção que teria restabelecido o mundo em sua unidade. O processo histórico estaria acabado antes mesmo de ter começado.

Infelizmente, ou melhor felizmente, Adão fracassou. Em lugar de unir o que devia ser unido e separar o que devia ser separado, separou o que estava unido: «Ele separou o fruto da árvore. »

O malogro do primeiro homem levou o mundo que estava quase reparado a sua condição anterior. O que se passou quando do «rompimento dos vasos» se reproduziu. Os transtornos provocados pela quebra dos vasos sobre no plano ontológico foram repetidos e reproduzidos aos níveis antropológico e psicológico.

A entrada do homem no jardim do Éden corresponde ao momento da quase restauração do rompimento. O episódio do fruto e a saída do jardim significam o segundo rompimento. A Missão que tinha Adão de reparar e restaurar os mundos derramava agora sobre seus descendentes mas de maneira incomparavelmente mais difícil e mais complexa.

Antes de seu malogro, Adão compreendia nele o conjunto das outras almas humanas a vir.

Com o segundo rompimento, as «centelhas» de almas humanas partilharam doravante o destino da Shekinah divina guardada nos fragmentos dispersos dos recipiente rompidos: foram aprisionadas nas «cascas»: a qlipa. [Marc-Alain Ouaknin  : Tsimtsoum]