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allegoria

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

gr. ἀλληγορία, αλληγορίες, allêgoría: interpretação alegórica, exegese. Etimologicamente deriva do verbo gr. allegorien, ele mesmo composto de allos "outro", e de agoreuein, "falar" (em uma assembleia), quer dizer, empregar outros termos (que os termos próprios). Como figura da retórica, a alegoria se caracteriza por dois traços: 1) aquele de um duplo sentido — próprio e figurado —, o segundo sendo latente e devendo ser descoberto sob o primeiro, único explícito; 2) aquele de sua posterior oposição ao símbolo, no sentido que toma este termo a partir do século XIX. [Notions Philosophiques  ]


Na retórica, a alegoria se distingue claramente destas formas, embora Quintiliano (Oratória 8, 6, 48) chega perto de recomendar formas mistas. O subs. allegoria (alia agoreuo, "dizer alguma coisa-diferente") se acha em Cícero (Orationes 27, 94), mas o vb. não aparece até Filo (De Cherubim 25; Som. 2, 31; Vit. Cont. 28), Josefo (Ant. Prefácio 24) e, mais tarde, Ateneo (2,69c). Esta ocorrência relativamente tardia torna provável que tivesse a sua origem nos tempos helenísticqs, possivelmente na diatribe estoica-cínica. O vb. significa: (a) "falar alegoricamente"; (b) "alegorizar". A alegorização sempre desempenhou um papel importante no que diz respeito a escritos sagrados. Quando estes ficavam antiquados, um conteúdo novo e contemporâneo era injetado neles mediante explicações alegóricas, sendo conservada, assim, a sua autoridade canônica. Assim, a alegorização é "uma forma literária tardia, quase decadente. Pressupõe uma etapa de desenvolvimento que já teve, essencialmente, seus tempos úteis. Embora já tenha sido deixada para trás, as pessoas ainda procuram salvar uns restos dela" (C. H. Peisker, "Das Alte Testament - Gabe und Aufgabe" em Kleine Predigttypologie, II, 1965, 17). Quanto à alegoria no pensamento helenístico e cristão primitivo, ver R. P. C. Hanson, Allegory and Event: A Study of the Sources and Significance of Origerís Interpretation of Scripture, 1959. [DITNT  ]
A alegoria é uma história livremente inventada, que diz alguma coisa diferente daquilo que aparece na superfície, ao empilhar metáfora sobre metáfora. É uma metáfora contínua, e.g. "O reino dos céus é semelhante a um rei que celebrou as bodas de seu filho. .." (Mt   22:2-10; cf. Jo 10:15;Rm 11:17-24; 1 Co 3:10-13; Ez caps. 16,17, 19,23, 31,34; SI 80:8-19).

"A alegoria procura apresentar às nossas mentes a verdade, pintando-a numa série de quadros, que indicam, mas ao mesmo tempo ocultam, a verdade que se tem em mira" (H. Weinel, Die Gleichnisse Jesu, 19295, 2). Como a metáfora, a alegoria baseia-se em convenções. Somente pode ser entendida quando se conhece as metáforas, pois estas devem ser traduzidas passo a passo, e isto quando se conhece o assunto que retratam. É uma forma literária, inteligível somente para os iniciados, cuja função não é tornar conhecidos os fatos, mas, sim, avaliar fatos conhecidos. Ez 17:12-21 oferece uma exposição modelar. Alegorias deste tipo ocorrem no NT, mas são designadas como parabole e não como allegoria (Mt 22:1). Excertos de "Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento  ", de Coenen & Brown

Henri de Lubac  : EXEGESE MEDIEVAL

O dístico com o qual a Idade Média lentamente estabeleceu sua doutrina relativa aos sentidos da Escritura Sagrada é bem conhecido. Sua forma visava agir como um aide-mémoire e foi muito popular em seu tempo em meio escolástico, como nesta fórmula de Nicolau de Lyra: A letra ensina os eventos, a alegoria o que se deveria acreditar, a moralidade ensina o que se deve fazer, a anagogia que meta deveria se objetivar. Ao longo da Idade Média a fórmula foi sendo refraseada mas guardando sempre fixa os quatro sentidos das Escrituras Sagradas, entre os quais o alegórico. Por exemplo nesta nova fórmula de Felipe Gamache, doutor na Sorbonne sob Luiz XIII: O que as palavras elas mesmas desvendam é dito ser histórico, e alegórico é dito ser a parte que é desempenhada entre o há muito perdido, sombras ancestrais; a moral é a parte através da qual uma regra de vida é mantida, enquanto a parte anagógica soa alto, proferindo para ti o que deverias manter diante de ti como um objeto de tua esperança. Para completar, entre as diferentes fórmulas que se propuseram, citamos ainda esta de Escola de São Victor sobre as quatro maneiras de compreender a Escritura Sagrada: Esta corrente tem quatro características diferentes: em algumas partes ela pode ser atravessada, em outras partes é profunda. Aqui é mais agradável ao gosto, doce e deliciosa, não reflui às alturas da qual brotou. Quando é mais claramente história, é fácil de atravessar, ao passo que é mais difícil de nadar as profundas águas da alegoria, é mais fácil beber as saborosas águas da moralidade, enquanto a anagogia é regurgitada e não se acomoda.