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Huang-Po (EH) – Palavras-chaves na tradução

sexta-feira 26 de agosto de 2022

      

«Espírito» (fr. «esprit  », geralmente traduzido por mente  ), no sentido relativo, designa a alma  , o coração  , todos os fatos psicológicos, etc. No sentido absoluto, designa a Realidade, «espiritual» do ponto de vista de sua extrema sutilidade. A originalidade do Chan   de Hong-tcheou reside em sua insistência, que o Zen japonês dogmatizou, sobre a onipresença da Realidade, e especialmente de seu funcionamento   no espírito humano, “meu” espírito. Frequentemente, adiciona-se à palavra «espírito» um qualificativo do gênero   «fundamental», «puro», «original», etc., para indicar que se trata da Realidade absoluta.

«Não-espírito», sinônimo «Via», é uma excelente maneira de recordar que o espírito uno é a Realidade e não um   estado   particular do espírito, pensamento preciso ou vaga sensação  . Penso que o discurso de Huang-Po é essencialmente centrado neste problema: Aquele que descobre o sentido da palavra «espírito» não tem necessidade   de buscar o Buda  .

O Buda relativo é um «desperto  », por contraste com um «não-desperto que, se encontrando perdido, erra» e porta   o nome técnico de «ser vivente  ». Para Huang-Po, este Buda-aí é um obstáculo, pois o Buda absoluto é a Realidade, a clara unidade de todos os contrários.

A «realização», sinônimo «silenciosa coincidência», em japonês satori  , não é outro senão a atualização do Real, intelectualmente «compreendido», no vivido. Quando de uma realização, o fluido se faz evidência perfeita e na unidade do sujeito   e do objeto, os «seres de razão» reintegram a «extensão», segundo a terminologia cartesiana...

Para traduzir os termos filosóficos chineses ti, sing e siang, escolhi termos escolásticos e espinosistas de «substância», «essência» e «atributos» que, me parece, se prestam muito bem à descrição da Realidade.

A «substância» (ti, dhatu) designa o conjunto   «essência-atributos». Para Espinosa   como para o budismo do grande veículo, a substância do espírito-Realidade é una e infinita: tal é o espírito uno de Huang-Po.

A «essência» (sing, svabhava) é a parte imutável   de toda coisa e seu ser fundamental. Em termos contemplativos, se chama «verdadeira natureza», «estado natural  » e pouco importa de quem ou de que esta essência é a «natureza intrínseca», posto que se é forçado a constatar, in vivo, que toda «visão da essência» é uma imensidade infinita e pacífica denominada «vacuidade».

Os «atributos» (siang, laksana e nimitta) são a expressão da essência, expressão sem a qual a substância não poderia ser. Huang-Po), com os adeptos da pureza   primordial, sustenta (constata) que a essência e os atributos fazem um na Realidade e mesmo que tudo o que percebemos, vivemos, é um atributo do espírito-Realidade, um atributo e não a Realidade ela mesma. O ensinamento de Huang-Po se estende por este fato sobre o método de reconhecimento da «coisa em sua expressão». A meta do mestre é de nos fazer descobrir a paz   infinita da essência no seio mesmo da multiplicidade, e é aqui que seu vocabulário ganha nuances. Essência e substância guardam seu sentido, mas os atributos não permanecem assim nomeados senão ao nível todo-englobante da verdade absoluta. Dissociados da essência vazia, eles tomam os nomes de «caracteres particulares», «marcas  », «características», «conceitos». Diremos que não mais atributos, mas «modos  ».

Huang-Po, portanto, leva o adepto a se «desapegar dos caracteres particulares», a não mais os confundir com a essência, ele o estimula a aí encontrar os atributos da Realidade, o que a Atiyoga denomina seus «ornamentos» ou suas «qualidades», e enfim, ele o força a reintegrar, por uma «silenciosa coincidência», a substância eternamente perfeita desta Realidade. Monge butista do grande veículo, o Despertar de Huang-Po é aquele do Buda enquanto Tathagata  , quer dizer personificação de «enquanto-tal-idade», «nada de particular», mas sobretudo o nada  . O Sutra   do Diamante e o Ensinamento de Vimalakirti são neste sentido suas obras de referência preferidas. Com eles, diz toda a parte dizível desta maravilha infinitamente sutil  , sempre no limiar do absurdo, à margem do niilismo, e no entanto, isso não é senão pura compaixão, expressão espontânea e não-referencial da Realidade realizada.

Huang Po – ConversaçõesHuang-Po (E) – Essencial do Método


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