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Boehme (3PED:350-352) – o nascido de mulher e sua triplicidade
terça-feira 18 de outubro de 2022
11. A imagem do homem nascido de uma mulher é, aqui nesta vida, uma forma tripla e reside em três princípios. Isto é, a alma tem sua origem a partir do primeiro princípio, da poderosa e grande força da eternidade , e move-se entre dois princípios, cercada pelo terceiro. Com sua raiz original, ela alcança as profundezas da eternidade, onde desde toda a eternidade Deus Pai entra, através das portas da quebra e ruptura, em Si mesmo , na Luz da alegria ; ela [a alma] está na aliança [1], onde Deus chama-se um Deus zeloso, colérico e forte . Ela é uma centelha da onipotência. Ela penetra nas grandes maravilhas da Sabedoria de Deus por meio da querida Virgem da castidade [ou pela Sofia]. Ela foi criada da Vontade eterna pelo potente Fiat de Deus. Mediante a Palavra de Deus reconcebida em Jesus Cristo , ela reside nas portas do Paraíso, com a forma do novo renascimento. Com a forma do primeiro princípio, ela reside nas portas da cólera da eternidade, qualificada-se com a região [2] do Sol e das estrelas, e está cercada pelos quatro elementos . O elemento santo (ou a raiz dos quatro elementos) é o corpo da alma no segundo princípio, nas portas [que estão] diante de Deus. A região [3] das estrelas é o corpo da alma no espírito deste mundo. O escoamento dos quatro elementos é a habitação da [sua] fonte, e o espírito deste mundo ou a região das estrelas acende esse escoamento e o torna atuante.
12. Assim, a alma vive nessa fonte tripla, está atada por três rédeas e é atraída pelas três. A primeira rédea é a aliança da eternidade [4], que é engendrada na ascensão da angústia e alcança o abismo infernal. A segunda rédea é o reino do Céu [5], que é engendrado pelas portas das profundezas no Pai e, pela humanidade de Cristo, é engendrado de novo da geração do pecado , onde (na homificação [6] de Jesus Cristo, o Filho de Deus ) a alma também é atada e é atraída pela querida Virgem [Sofia] à Palavra de Deus. A terceira rédea é o reino das estrelas [7], que se qualifica com a alma, e esse reino é fortemente atraído e retido, e também levado e conduzido pelos quatro elementos.
13. Contudo, o terceiro reino [8] não está na eternidade: ele foi engendrado do elemento no momento da inflamação do Fiat, é corruptível, tem um certo período, um limite, um tempo; e essa mesma região [princípio ou reino] tem também na alma (quando a luz da vida se acende [9]) um certo período, um tempo para sua destruição. Esse reino [10] também educa o homem e lhe dá a fonte de seus hábitos, de sua vontade e de seus desejos para o mal e para o bem. Ele o estabelece em beleza, domínio, riquezas e honras; faz dele um deus terrestre; abre em si grandes maravilhas para ele; corre com ele irrefletidamente até o fim de seu século (seculum); então, separa-se dele, e, como ajudou o homem em sua vida, também o ajuda a morrer e separa-se da alma.
14. Primeiro, os quatro elementos retiram-se do elemento. Então, a fonte cessa no terceiro princípio’, e, quando os quatro elementos quebram-se em si mesmos, é o que há de mais horrível: é a morte, de modo que o espírito do enxofre — que deriva do fel e acende a tintura do coração — sufoca. Então, a tintura vai ao éter com a sombra da substância do homem; permanece com a sombra na raiz do elemento, do qual os quatro elementos foram engendrados e saíram; e o tormento da quebra consiste apenas nisso, que uma habitação-fonte é subtraída da alma.
15. No entanto, se então as essências do primeiro princípio da alma estivessem de tal modo voltadas para a região [princípio, reino ou regime] deste mundo; se as essências da alma só tivessem buscado os prazeres deste mundo, as honras temporais, o poder e a pompa; então a alma, ou as essências do primeiro princípio, ainda assim manteriam consigo a região [11] das estrelas como seu tesouro mais querido, na intenção de viver ali dentro. No entanto, como essa região [das estrelas] não tem mais a [sua] mãe [ou os quatro elementos], com o tempo consome a si mesma nas essências do primeiro princípio e, assim, as essências do primeiro princípio permanecem nuas [12].
16. E aqui se encontra o Purgatório. Tu, mundo cego , se podes fazer alguma coisa, ajuda então tua alma a passar através das fortes portas. Se aqui o quebrador da serpente não tivesse segurado as rédeas, ela teria ficado completamente no primeiro princípio. Enfim, aqui se encontra a grande vida, e também grande morte: a alma tem de entrar em uma das duas, e essa torna-se sua pátria eterna, pois o terceiro princípio cai completamente e abandona a alma, e ela não pode mais usá-lo na eternidade. [Boehme3PED, tr. Américo Sommerman]
Ver online : Jacob Boehme
[1] Na aliança indissolúvel: na raiz tenebrosa e colérica, no verme ou alma da eternidade: no primeiro princípio.
[2] Ou reino, princípio, regime.
[3] Ou reino, princípio, regime.
[4] Ou o primeiro princípio.
[5] Ou o segundo princípio.
[6] Ou encarnação.
[7] Ou o terceiro princípio.
[8] Ou o terceiro princípio.
[9] Na alma, ou quando a criança recebe sua própria vida no seio da mãe.
[10] Ou região ou princípio.
[11] Princípio, reino ou regime.
[12] Ou sem corpo. Pois então a corpo astral (que subsiste por um certo tempo após a morte) desaparece; e, por a alma não ter sido gerada de novo para o reino celeste, não tem o corpo do elemento santo ou puro.