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Antonius Deserto
domingo 20 de março de 2022
3.1- Antão busca o deserto e habita em Pispir (banda oriental do Nilo)
No dia seguinte ele se foi, inspirado por um zelo maior ainda pelo serviço de Deus . Foi ao encontro do ancião já antes mencionado (3,5) e rogou-lhe que fosse viver com ele no deserto. O outro declinou o convite devido à sua idade e porque tal modo de viver não era costume . Então ele se foi sozinho para a montanha . Aí estava, entretanto, de novo o inimigo ! Vendo sua seriedade e querendo frustrá-la, projetou a imagem ilusória de um grande disco de prata sobre o caminho . Antão, porém, penetrando o ardil daquele que odeia o bem, deteve-se e, mirando o disco, desmascarou nele o diabolos - demônio, dizendo: "- Um disco no deserto? De onde vem isto? Esta não é uma estrada freqüentada e não há sinais de que haja passado gente por este caminho. É de grande tamanho e não pode haver caído inadvertidamente. Em verdade, ainda que fora perdido, o dono teria voltado a procurá-lo, e seguramente o haveria encontrado, pois esta região é deserta. Isto é engano do diabolos - demônio. Não vás frustrar minha resolução com estas coisas, diabolos - demônio! Teu dinheiro pereça contigo!" (cf At 8,20). E ao dizer isto Antão, o disco desapareceu como fumo.
12. Logo, enquanto caminhava, viu de novo, não mais outra ilusão, mas ouro verdadeiro, espalhado ao longo do caminho. Pois bem, seja que o próprio inimigo lhe tivesse chamado a prosoche - atenção, ou fosse um bom espírito que atraiu o lutador, ficou demonstrado ao diabolos - demônio que ele não se preocupava nem sequer das riquezas autênticas; ele próprio não o indicou, e por isso não sabemos nada senão que era realmente ouro o que ali havia. Quanto a Antão, ficou surpreendido pela quantidade que havia, mas passou por ele como se fora fogo , e seguiu seu caminho sem olhar para trás. Ao contrário, pôs-se a correr tão rápido que em pouco tempo perdeu de vista o lugar e dele desapareceu.
Assim, firmando-se sempre mais em seu propósito, apressou-se em direção à montanha. Em lugar distante do rio encontrou um fortim deserto que com o correr do tempo achava-se infestado de répteis. Ali se estabeleceu para viver. Os répteis, como que expulsos por alguém, foram-se de repente. Bloqueou a entrada, e depois de enterrar pão para seis meses - assim o fazem os tebanos e muitas vezes os pães se mantêm frescos por todo um ano - e tendo água perto, desapareceu como num santuário. Ficou sozinho, não saindo nunca e não vendo ninguém passar. Por muito tempo perseverou nesta praktike - prática ascética; só duas vezes por ano recebia pão, que lhe deixavam cair pelo teto.
13. Seus amigos que vinham vê-lo passavam a miúdo dias e noites fora, pois não queria deixá-los entrar. Ouviam barulho dentro como de multidão frenética, fazendo ruídos, armando tumultos, gemendo lastimosamente e dando guinchos: "Sai de nosso domínio! Que vens fazer no deserto? Tu não agüentas nossa perseguição!" A princípio, os que estavam fora criam haver homens lutando com ele e que haviam entrado por escadas, mas quando espreitaram por um buraco e não viram ninguém, deram-se conta de que os diabolos - demônios é que estavam na coisa, e cheios de medo, chamaram Antão que estava mais inquieto por eles do que preocupado com os diabolos - demônios. Chegando à porta , aconselhou-os que se fossem e não tivessem medo. Disse-lhes: "Os diabolos - demônios só conjuram fantasmas contra o medroso. Façam agora o sinal da cruz e voltem a suas casas sem phobos - temor, e deixem que eles se enlouqueçam a si mesmos".
Foram-se, então, fortalecidos com o sinal da cruz, enquanto ele ficava sem sofrer dos diabolos - demônios mal algum, sem se cansar, nem se alterar na contenda , porque a ajuda que recebia do alto por meio de visões e a debilidade de seus echthros - inimigos, davam-lhe grande alívio em suas penas, e ânimo para um entusiasmo maior. Seus amigos vinham uma ou outra vez supondo encontrá-lo morto, mas o ouviam cantar: "Levanta-se Deus e seus echthros - inimigos se dispersam; fogem de sua presença os que o odeiam. Como a fumaça, eles se dissipam; como se derrete a cera ante o fogo, assim perecem os ímpios diante de Deus" (Sl 67,2). E ainda: "Todos os povos me rodeavam, em nome do Senhor eu os expulsei" (Sl 117,10).