Kingsley (Reality:339-340) – Parmênides aquece. Empédocles queima.

O poema de Parmênides começa com uma viagem   que parece nos levar o mais longe possível daqui: aos limites da existência, às raízes míticas de tudo o que existe. Só com o tempo começa a ficar claro que seu “lá” é realmente “aqui”. Mas com Empédocles o ensinamento começa aqui. Ele assume total responsabilidade   por isso desde o início. Não se fala mais em caminhos que acabam não sendo caminhos — nenhum daqueles enigmas envolventes sobre jornadas que levam a lugar nenhum. Ele encarnou o ensinamento em si mesmo  .

E ele assume total autoridade   para isso como o professor mais que humano.

É assim que a linha progride. Parmênides aquece. Empédocles queima. Com ele, não há mais margem de manobra.

Ele ousa   dar o passo de dizer que encontrar a verdade não é uma questão de entrar em outro nível de realidade, de viajar além do tempo e do espaço, de sintonizar em outra dimensão. O que mais importa é ficar cara a cara com um ser humano   que percebeu essa verdade e encarna seu poder; que descobriu o imortal no coração   do mortal  , o divino   no meio do humano.

Em vez de ser dito por uma deusa   que a existência humana como a vivemos é totalmente fútil, agora estamos sendo informados por alguém que parece bastante humano como nós. E, no entanto, Empédocles pode dizer isso porque sabe que a existência humana não é um fim em si mesma.

Se fôssemos apenas seres humanos, não haveria problema, confusão ou desespero  . Não estaríamos em guerra   conosco mesmos, vivendo um pesadelo suave à mercê de nosso próprio poder. Mas não somos. Quando crescemos e construímos um lar para nós mesmos, uma família, uma carreira, seguimos todos os nossos sonhos, isso não é vida. Isso não tem nada a ver com o que a vida realmente é. Não é nem o começo da vida. E dizer que tudo o que chamamos de experiência não passa de um sonho   caótico não é ser negativo. Pelo contrário: é apenas a tentativa de economizar um pouco de tempo, de poupar muito sofrimento  , de ajudar a apressar as coisas.

Pois somos as sementes de tanto. A existência humana nada mais é do que a vida divina não vivida.