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Trabalhadores da Vinha (Mt 20,1-16)

sábado 23 de julho de 2022

      

Chouraqui

1 «Sim, o reino dos céus é semelhante a um homem  , um patrão, que sai cedo de manhã para contratar trabalhadores para sua vinha.
2 Ele combina com os trabalhadores um denário por dia; e os envia à sua vinha.
3 Ele sai por volta da terceira hora.
E vê outros parados e desocupados na praça.
4 Ele lhes diz: “Ide vós também à minha vinha.
Eu vos darei o que é justo.”
5 Eles se vão. Ele sai novamente por volta da sexta, e também por volta da nona hora. E faz o mesmo.
6 Ele sai por volta da décima primeira hora.
E encontra outros homens parados e lhes diz:
“Por que vós ficastes aí, desocupados o dia todo?”
7 Eles lhe dizem:
“Porque ninguém nos contratou.”
Ele lhes diz: “Ide, vós também, à vinha.”
8 Vinda a noite, o Adôn da vinha diz a seu intendente: “Chama os trabalhadores, distribui o salário  , começando pelos últimos
até os primeiros.”
9 Aqueles da décima primeira hora vêm e recebem um denário cada um.
10 Depois, vêm os primeiros
e pensam que receberão mais;
mas recebem, também, um denário cada um.
11 Quando eles recebem, vociferam contra o patrão e dizem:
12 “Estes, os últimos, fizeram apenas uma hora, e tu os fazes nossos iguais,
a nós que suportamos o peso do dia e o calor.”
13 Ele responde a um deles e diz:
“Meu amigo, não te lesei.
Tu estavas de acordo comigo em um denário, não estavas?
14 Pega o que é teu e vai-te embora.
Eu quero dar àquele, o último, tanto quanto a ti.
15 Não me é permitido fazer o que quero do que é meu?
Ou é mau teu olho porque eu sou   bom?”
16 Assim, os últimos serão os primeiros e os primeiros, últimos.»

Almeida

1 Porque o reino dos céus é semelhante a um homem, proprietário, que saiu de madrugada a contratar trabalhadores para a sua vinha. 2 Ajustou com os trabalhadores o salário de um denário por dia, e mandou-os para a sua vinha. 3 Cerca da hora terceira saiu, e viu que estavam outros, ociosos, na praça, 4 e disse-lhes: Ide também vós para a vinha, e dar-vos-ei o que for justo. E eles foram. 5 Outra vez saiu, cerca da hora sexta e da nona, e fez o mesmo. 6 Igualmente, cerca da hora undécima, saiu e achou outros que lá estavam, e perguntou-lhes: Por que estais aqui ociosos o dia todo? 7 Responderam-lhe eles: Porque ninguém nos contratou. Disse-lhes ele: Ide também vós para a vinha. 8 Ao anoitecer, disse o senhor da vinha ao seu mordomo: Chama os trabalhadores, e paga-lhes o salário, começando pelos últimos até os primeiros. 9 Chegando, pois, os que tinham ido cerca da hora undécima, receberam um denário cada um. 10 Vindo, então, os primeiros, pensaram que haviam de receber   mais; mas do mesmo modo receberam um denário cada um. 11 E ao recebê-lo, murmuravam contra o proprietário, dizendo: 12 Estes últimos trabalharam somente uma hora, e os igualastes a nós, que suportamos a fadiga do dia inteiro e o forte   calor. 13 Mas ele, respondendo, disse a um deles: Amigo, não te faço injustiça  ; não ajustaste comigo um denário? 14 Toma o que é teu, e vai-te; eu quero dar a este último tanto como a ti. 15 Não me é lícito fazer o que quero do que é meu? Ou é mau o teu olho porque eu sou bom? 16 Assim os últimos serão primeiros, e os primeiros serão últimos. [Mt   20,1-16]


Roberto Pla

Estudada em seu sentido manifesto   de prioridade temporal a parábola planteia sérias dificuldades de interpretação. Em nada se justifica que os chamados a primeira hora (sejam estes os judeus   beneficiários da Aliança desde Abraão, tal como sugerem os eclesiásticos, ou sejam os cristãos dos primeiros tempos da Boa Nova por sua proximidade aos dias de Jesus  ), tenham que ser os últimos a receber a recompensa do reino de Deus  . Tampouco se entende que os “pecadores” e os “pagãos” convertidos dos últimos séculos do mundo — os da hora undécima, ou penúltima desta longa geração — devam cobrar seu denário, sua entrada no reino, antes que os pecadores e pagãos “conversos” (contratados) de hoje, e estes antes que os de ontem, etc..., em uma ordem   de prioridade inversa à antiguidade   de sua passagem pelo mundo. A verdade é que tudo isto sugere um conceito de “sala de espera”tão ingênuo como inútil, e parece razoável desestimar qualquer interpretação literal e temporal da sentença. A prioridade de “primeiros, últimos” e “últimos, primeiros” que taxativamente se fixa, não permite nem ainda sugerir uma espécie de interregno de atemporalidade que ajude a mitigar a sede de justiça daqueles que esperam seu turno para cobrar o salário já ganho com seu trabalho.

Estudada desde seu sentido oculto  , a sentença descobre que as denominações de “primeiros” e “últimos” se apresentam em uma dupla significação classificatória, que embora se resolva em uma aplicação temporal, parte de uma distinção qualitativa muito peculiar do evangelho pois tal distinção constitui sua essência mesma. De maneira muito concreta, esta distinção foi explicada por Paulo Apostolo em um logion muito conhecido, embora não muito estudado: “Foi feito o primeiro homem, Adão  , alma   vivente, o último Adão, espírito que dá Vida” (1Cor 15,45).

O que diz Jesus na sentença, e nele vemos o maior timbre de grandeza   de sua mensagem, é que todo homem “primeiro” não é um condenado irremissível a ser “último” na vinha do Pai  , senão que pode aceder por si mesmo   à Vida e sabedoria   próprias, ao poder e a glória   do espírito. Para isso o essencial é “crer” com fortaleza absoluta na assombrosa verdade de que “Cristo é” no interior de cada homem, uma voz suprema que espera sua ressurreição.

Dotado dessa fé e ajudado pela obras que em tal caso florescem por si só regadas por esse alimento de fidelidade, é possível ao “homem na alma” alcançar seu ser espiritual em Cristo. Isto não se realiza sem uma longa peregrinação que para o homem “primeiro” seria impossível, se não fosse porque desde o espírito o faz possível Deus  .

  • Jesus, fixando neles o olhar, respondeu: Aos homens é isso impossível, mas a Deus tudo é possível. (Mt 19:26)

O evangelista Marcos explica isto muito bem na parábola da semente   que cresce por si só (Semente que germina).

Assim é como o Filho do Homem   chega a ser “des-coberto”. Primeiro vem como um recém-nascido interior (o fruto   do varão que pedia Davi) e logo se desenvolve em diferentes “medidas” (Parábola do Semeador) até alcançar a plenitude   de manifestação em Cristo. Em virtude de   tal manifestação, o homem “primeiro” que ia a cobra sua diária entre os “últimos”, uma vez renascido da água e do espírito será contado entre os “últimos”, como espírito que dá Vida e terá seu denário entre os “primeiros”. Só assim será possível que os “últimos” seja “primeiros” e os “primeiros”, “últimos”.

Quanto a linguagem das sucessivas horas nas quais os trabalhadores da vinha começão seu trabalho, se encerra, sem dúvida, sob as muitas dobras da parábola. Os homens primeiros foram ajustados todos na hora “prima”, ao nascer do dia, sem fazer distinção neles, mas com respeito a todos os demais, qualificados como últimos, o relato dá conta, tal como se faz na Parábola do Semeador, de umas “medidas” de proximidade ao reino, tanto mais imediato quanto mais avançada é a hora da convocatória.

Mas o essencial na ilustração da parábola quanto ao logion é a identidade do princípio e do fim. Os “adãos de alma vivente   (vide Adão Alma Espírito) são qualificados como “primeiros”, porque com efeito, são os primeiros quanto a ser conhecidos (nascidos) no mundo, mas visto desde a Vida eterna, o Filho do Homem, feito à imagem de Deus no sexto Dia da criação, antes de que o aparato do tempo se pusesse em marcha, é o Princípio que há que conhecer. Este Princípio está formado pela total assembleia   dos “últimos” os quais são conhecidos (estão ressuscitados) no mundo, pelo que eles conhecem o fim e não provarão a morte.

Tem razão o autor do Apocalipse   quando escreve: “Isto diz o primeiro e o último, o que esteve morto e reviveu” (Ap 2,8). Também tem razão quando aconselha aos “adãos de alma vivente  ” que ainda não tenham “des-coberto” (ressuscitados neles) ao Filho do Homem que neles vive: “Ditosos os que lavam suas vestimentas; assim poderão dispôr da Árvore da Vida” (Ap 22,14). (Evangelho de Tomé - Logion 18)

René Guénon

«Pobreza  », «simplicidad», «infancia» o «niñez», no hay ahí más que una sola y misma cosa, y el despojamiento que todos estos términos expresan [1] aboca a una «extinción» que es, en realidad, la plenitud del ser, del mismo modo en que el «no-actuar» (wou-wei) es la plenitud de la actividad, puesto que es de ahí de donde son derivadas todas las actividades particulares: «El Principio es siempre no-actuante, y sin embargo todo es hecho por Él» [2]. El ser   que es así llegado al punto central ha realizado por ello mismo la integralidad del estado   humano: Es el «hombre verdadero» (tchenn-jen) del taoísmo, y cuando, partiendo de ese punto para elevarse a los estados superiores, haya cumplido la totalización perfecta de sus posibilidades, devendrá el «hombre divino» (cheun-jen), que es el «Hombre Universal  » (El-Insâmul-Kâmil) del esoterismo   musulmán. Así, puede decirse que son los «ricos» bajo el punto de vista de la manifestación quienes son verdaderamente «pobres» al respecto del Principio, e inversamente; es lo que expresa también muy claramente esta palabra del Evangelio: «Los últimos serán los primeros, y los primeros los últimos» (San Mateo 20:16); y debemos constatar a este respecto, una vez más, el perfecto acuerdo de todas las doctrinas Tradicionales, que no son más que las expresiones diversas de la Verdad una. [APERCEPCIONES SOBRE EL ESOTERISMO ISLÁMICO Y EL TAOISMO — ET-FAQRU]

Antonio Orbe

Para la mayoría de los eclesiásticos, el día de la parábola representa el tiempo desde la constitución hasta la consumación del mundo. Así claramente Orígenes afirma en Comm. in Matth. XV 31.

Día del Señor, día grande, el tiempo de la humana peregrinación por el mundo, «todo el siglo presente  » (Comm. in Matth.).

Lo mismo San Hilario, San Jerónimo, el autor del Opus imperfectum, Optato Milevitano, San Gregorio M., Beda y otros. Igual entre los griegos, el fragmento de las Cadenas, atribuido a San Cirilo Al.

San Ambrosio   resume con multitud de testimonios bíblicos el significado de aquel día (Expos, in Lc  . VII).

La división del día en cinco  , con arreglo a los cinco grupos que fue enviando el amo a la viña, coincidía con la clásica división judía en horas. En su aplicación al día grande había, naturalmente, sus diferencias. Orígenes indica una muy razonable. La hora de prima duró hasta Noé; tercia hasta Abrahán, sexta hasta Moisés, nona hasta Cristo, y undécima entre las dos parusías del Salvador  :

«Mira si puedes denominar primer orden (= grupo, Táypa) al de Adán, en seguida de la creación; porque el paterfamilias salió a prima mañana y contrató, por así decirlo, a Adán y Eva para que labraran la viña de la piedad. Y segundo orden, al de Noé y el pacto relativo a él. Y tercero, al de Abrahán con el cual se cuentan ios de los patriarcas hasta Moisés. Y cuarto, el de Moisés y toda la dispensación de Egipto y la legislación en el desierto. Ultimo (= quinto) orden, el de ia parusía de Jesucristo, el de la (hora) undécima. Por lo demás un solo hombre, amo de casa  , según (aparece) en la parábola propuesta, salió cinco veces... Porque un solo Cristo descendió muchas veces a los hombres a administrar siempre lo tocante a la vocación de los operarios» (Comentários a Mateus).

Entre los griegos, sigue a Orígenes el fragmento 226 (de San Cirilo Al.?), con algunas variantes. Entre los latinos, figura en primer lugar, siguiendo también al alejandrino, el obispo San Hilario.

Otro tanto, con ligeras variantes, enseñan San Agustín, el autor del Opus imperfectum, San Gregorio M., Beda, Teófilacto y otros.

Resume bien San Ambrosio en Expos. in Lc. VII § 223.

Poca simpatía sintió en ocasiones San Jerónimo por el obispo de Milán, y aún menos por Orígenes. Por eso, quizás, no obstante conocer su exégesis y aun apropiársela (en 393) como única al redactar el Adversas Iovinianum, más tarde en el Comentario a Mateo (398), para disimular probablemente su dependencia del alejandrino, declara — sin citarle — su exégesis en segundo lugar, a título ajeno y de erudición.

También en lugar secundario habíala presentado el Ps.Teófilo. Orígenes apuntaba una idea  . Los grupos llamados a la viña no iban casualmente (v. Trabalhadores da Vinha: unos a primera hora y otros a la de tercia, sexta... El amo los contrataba según las aptitudes que en ellos descubría. Una cierta armonía preestablecida actuaba sobre los individuos para ponerlos a disposición del amo a la hora justa en que mejor pudieran ejercer sus habilidades. Así, los del grupo de Adán hasta Noé fueron enviados — como primeros — a la viña, para hacer en ella los primeros trabajos a que tenían aptitud singular. Los del grupo de Noé hasta Abrahán se presentaron a la hora de tercia, por ser los más convenientes para el pacto nuevo con Dios... El pensamiento, demasiado sutil  , no parece haber tenido gran resonancia. [Parábolas Evangélicas em São Irineu]

Tomas de Aquino  : Catena aurea


[1Es el «despojamiento de los metales» en el simbolismo masónico.

[2Tao-te-King, XXXVII.