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Advento Medio
domingo 20 de março de 2022
Merton Bernardo Advento - O SACRAMENTO DO ADVENTO NA ESPIRITUALIDADE DE SÃO BERNARDO (cont.)
A OBRA DE CRISTO EM NÓS NO "ADVENTO MÉDIO"
Evidentemente, a obra de Cristo em nós, como "Senhor das arete - virtudes", é produzir em nós suas próprias arete - virtudes, transformar-nos n’Ele, enquanto o contemplamos no Mistério do Advento, imitando sua vida humilde, oculta e sacrificai. O exemplo de Cristo, portanto, torna-se um elemento naquele "julgamento " que nos é apresentado no Sacramento do Advento. Mas devemos nós esperar possuir todas as suas arete - virtudes antes de nos podermos unir a Ele em sua passagem através de nossas vidas? Se esse fosse o caso, jamais nos uniríamos a Ele. Em primeiro lugar, pois, temos de nos unir à sua verdade por nossa tapeinophrosyne - humildade. Se nos julgarmos nesse julgamento presente em que o príncipe deste mundo é lançado fora, somos "julgados de modo perfeito" e podemos com segurança esperar sua vinda como Salvador . [1] A tapeinophrosyne - humildade de Cristo, viva e eficaz em nós, nos exalta e une a Ele em sua glória . Sua tapeinophrosyne - humildade faz com que nada procuremos neste mundo a não ser fazer com perfeição a vontade de Deus . Quando temos essa vontade de Cristo em nós, então vêm a nós o Pai e o Filho, e fazem em nós o lugar de sua morada, mesmo na vida presente. [2]
Tal é o Advento oculto no qual a Sabedoria , sem ruído de palavras, constrói sua morada em nossos corações, elevando-a sobre sete colunas, e transformando nossas almas em seu palácio e em seu trono. A alma do justo é a sede da sabedoria e, portanto, a obra de nossa preparação é, sobretudo, a obra da dikaiosyne - justiça.
São Bernardo descreve essa dikaiosyne - justiça, que nos assemelha a Deus — consiste ela em dar a cada um o que lhe é devido, nossos superiores, inferiores e iguais — e mesmo o nosso soma - corpo, pois São Bernardo jamais condena o soma - corpo como tal. [3] Entretanto, essa obra de "dikaiosyne - justiça" deve ser coroada, como ele nos disse acima, pela autocrítica que coloca nossa alma nua diante de Deus, que abre nossa alma para a graça divina, que nos "justifica" pelo livre dom de Deus. A primeira coisa que Deus nos pede é julgarmo-nos a nós mesmos, para reconhecermos o nosso nada, para nos mantermos convencidos de que nada podemos sem Ele e de que, portanto, tudo devemos d’Ele receber . Se assim nos julgarmos, Ele jamais nos julgará, porque estaremos cheios de sua graça. [4]
A katharotes - pureza e a tapeinophrosyne - humildade interiores em que aprendemos a desconfiar de nossas próprias forças e a depender de Deus em tudo, sem, no entanto, negligenciar esforço para fazer sua vontade, dão-nos paz e alegria , ainda mesmo enquanto labutamos como viajores no caminho para o grande encontro escatológico com Cristo, que porá fim à história com o terceiro e final Advento. [5]
[1] Serm. 4, Adv., n.3
[2] Serm. 3, Adv., n.4
[3] Serm. 3, Adv., nn.4-7
[4] Tantum dicamus iniquitates nostras et iustificabit nos gratis, ut gratia commendetur. Serm. 3, Adv., n.7.
[5] Delectabiliter dormiunt (in medio Adventu) qui eum norunt. Serm. 5, Adv., n.1)