Página inicial > Oriente > Suzuki (DZNM:31) – meditação segundo Hui-neng

Suzuki (DZNM:31) – meditação segundo Hui-neng

sábado 17 de setembro de 2022

      

A seguinte história serve para ilustrar melhor a posição de Hui-neng a respeito da meditação; é sobre um de seus discípulos: [1]

”No décimo primeiro ano de Kai-iun (723 d.C.), havia em T’an-chou um mestre zen chamado Chih-huang, que havia estudado com Jen, o grande Mestre. Mais tarde, recolhera-se ao mosteiro de Lu-shan, em Chang-sha, onde se entregara à prática da meditação (tso-ch’an = dhyana  ) e frequentemente atingia o Samadhi   (ting).

”Sua fama chegara até muito longe.

”Na mesma época, havia outro mestre zen chamado Tai-yung  , [2] que havia estudado durante trinta anos com o grande Mestre. Este costumava dizer-lhe: — Estás pronto para ser missionário. — Afinal Yung despediu-se do Mestre e seguiu para o norte  . No caminho  , ao passar pelo retiro   de Chih-huang, Yung fez-lhe uma visita e respeitosamente indagou: — Dizem que Vossa Reverência entra em Samadhi com frequência; quando isso acontece, a sua consciência continua ainda ou o senhor fica em estado   de inconsciência? Se continua consciente, todos os seres sensíveis são dotados de consciência e podem entrar em Samadhi como o senhor. Se, ao contrário, o senhor fica inconsciente, as pedras e as plantas podem entrar em Samadhi.

”Huang respondeu: — Quando entro em Samadhi não tenho consciência de quaisquer dessas condições.

”Yung disse-lhe: — Se o senhor não tem consciência de quaisquer dessas condições, isso é o mesmo que um perpétuo Samadhi; e não há entrada e saída em um Samadhi.

”Huang não respondeu. Perguntou: — Você diz que vem de Neng, o grande Mestre; que instrução lhe deu ele?

”Yung respondeu: — Segundo ele ensina, a não-tranquilização (ting-Samadhi), a não-perturbação, o não-sentar (tso) e a não-meditação (ch’an) são o Dhyana do Tathagata   (Buda  ). Os cinco   Skandas não são realidades e os seis objetos dos sentidos são vazios por natureza. Ela nem é quieta, nem é iluminadora; não é nem real, nem vazia; não fica no caminho do meio; ela é não-fazer; é não-produzir-efeito; e, no entanto, ela funciona com a maior liberdade: a natureza de Buda inclui todas as coisas.

”Ao ouvir   essas palavras, Huang compreendeu-lhes o sentido imediatamente e suspirou: — Sentei-me em vão durante trinta anos.” [3]


Ver online : D. T. Suzuki


[1No Pieh-chuan (outia “biografia” do grande Mestre de Ts’ao-ch’i isto é, de Hui-neng) e também na edição corrente do Tan-ching.

[2Yuan-ts’e, de acordo com a versão da edição corrente do T’an-ching.

[3Sentar-se significa tecnicamente “sentar-se em meditação com as pernas cruzadas”, “praticar o Dhyana”, sendo geralmente usado com ch’an (za-zen, sentar-se em meditação).