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Harada (Eckhart) – níveis ou graus de ser

quinta-feira 13 de outubro de 2022

      

Como é usualmente conhecido, o universo   medieval apresentava-se em ordenações da intensidade de ser que partindo de Deus   (ens a se, absoluto e infinito  ), a fonte   da possibilidade de ser e a plenitude   absoluta de ser (Deus ipsum esse) formava algo como cascata de ser, em diferentes esferas ou níveis da intensidade de ser, até alcançar a esfera  , a mais longínqua e diluída do ser, a saber, o mundo dos entes materiais sem vida, que por sua vez por assim dizer se esvai na pura possibilidade de ser denominada prima matéria ou nada. Essa “realidade” última da Criação ou do universo criado era descrita como “feita” “ex nihilo sui et subiecti” a saber, do nada de si e do substrato   anterior   prévio. Essa pura possibilidade de ser era também denominada de “potentia oboedientialis”. A totalidade dessas ordenações se constituía em duas grandes regiões do ser, que vistas na ordem   ascendente, eram 1. a região das substâncias compostas, a saber: esfera a) da substância material sem vida (pedras, metais etc.); b) da substância viva (vegetais); c) da substância dotada de sensibilidade   (animais  ); d) da substância dotada de racionalidade (homens, animal rationale). 2. a região das substâncias simples ou dos espíritos: esfera a) dos nove coros dos anjos   na sua hierarquia ascendente b) Deus. Nessa ordem dos entes do universo medieval o Homem   pertencia tanto à região das substâncias compostas como à das substâncias simples. E enquanto pertencente à região das substâncias simples, o que o caracteriza especificamente, a saber racionalidade (ratio, rationale) se escalonava na intensidade da perfeição do ser e recebia então na din  âmica ascendente como animus   (alma), intellectus  , mens   (spiritus). Essa posição do homem por assim dizer no meio da graduação das ordenações do ser como que mediando a região de cima (das substâncias simples) com a região de baixo (das substâncias compostas) e vice-versa era devida à doutrina   da encarnação. Homem aqui era entendido a partir e dentro do ser do Mistério da Criação, interpretado como Mistério da Filiação divina: a saber, Jesus Cristo  , Deus feito Homem e Homem feito Deus.

[Nota em DA PESSOA, Revista Scintilla]


Ver online : Hermógenes Harada