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Hildegard de Bingen (LDO) – Operatione Dei - Prólogo
sexta-feira 14 de outubro de 2022
Excertos da versão francesa de Bernard Gorceix , traduzidos para português por Yara Azeredo Marino e Elisabete Abreu
Cinco anos haviam se passado . Durante esses cinco anos autênticas e maravilhosas visões fizeram com que eu me afligisse. Nessas visões, inculta como era, reconhecera, apreendendo de forma autêntica a luz perene, a diversidade das condições humanas. Foi no início do primeiro ano de minhas novas visões que se deu o acontecimento . Eu tinha então 65 anos. Tive uma visão cujo mistério era tão profundo que me atordoou, fazendo com que todo o meu corpo estremecesse. Fraca como estava, adoeci. Durante sete anos, entretanto, trabalhei sobre aquela visão, conseguindo a custo terminar minha redação. Isso se deu no ano de 1163 da encarnação do Senhor, sob o reinado do imperador Frederico: a sé romana permanecia submissa ao opressor. Então, uma voz vinda do céu se fez ouvir , dirigindo-se a mim : "Pobre alma , filha de tantas misérias! Quão abatida estás por sofrimentos físicos tão cruéis! Ei-la no entanto, mais uma vez, trespassada pela vaga do abismo dos mistérios divinos. Pelos homens, não deixe a caneta! Transcreve tudo o que seus olhos viram e tudo o que seus ouvidos interiores ouviram! Que os homens alcancem o conhecimento de seu criador, que enfim se permitam adorá-lo dignamente, venerá-lo! Redige portanto esse escrito: não como desejaria seu coração , mas como atesta meu testemunho, o testemunho daquele cuja vida não teve começo nem fim! Você não é a criadora dessa visão e nenhum outro homem poderia imaginá-la. Decidi por ela totalmente, antes do início do mundo. Conhecia o homem antes mesmo que o tivesse criado. Do mesmo modo previ tudo o que ele precisaria." Pobre, enferma, atormentada, a mão trêmula, iniciei meu trabalho . Era auxiliada na redação pela confiança e pelo testemunho daquele que eu secretamente procurara em minhas precedentes visões, e que por final encontrara, Volmar, e pela confiança do jovem Richardis, já citado nessas mesmas visões. Toda vez que sentava à minha escrivaninha, erguia o olhar em direção à luz da verdade e da vida, a fim de que ela me instruísse sobre o que falar. Tudo o que escrevi, das primeiras visões a todo o saber adquirido em seguida, devo aos mistérios do céus. Aprendi-o conscientemente, meu corpo de todo desperto . Minha visão são os olhos interiores de meu espírito e os ouvidos interiores que a transmitem. Já insisti nesse ponto quando de minhas visões precedentes: não me encontrava em um estado de letargia; tampouco se tratava de um êxtase do espírito. Não transcrevia nada que não se originasse, em testemunho de autenticidade, do universo das percepções humanas. Simplesmente expunha o que me ofereciam os segredos do céu. Foi quando voltei a ouvir a voz que do céu me instruía. E ela dizia: "Escreve o que te disse!"
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