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Festugière (HMP): Aspecto formal das místicas da salvação

sábado 6 de agosto de 2022

      

tradução

1. Se o mundo, regido por Heimarmene  , é mau, tudo aquilo que, no homem  , é do mundo, é mau, pelo menos manchado de mal. Ora a parte cósmica do homem não é somente o corpo, hílico   por definição, mas também sua alma   ligada ao corpo, e nesta alma, a razão raciocinante, a qual é bem capaz de conhecer aquilo que está no interior do mundo, mas não se elevar, acima do mundo, até a apreensão do verdadeiro Deus   hipercósmico. O pessimismo a respeito do mundo conduz assim a um pessimismo, mais ou menos radical, a respeito da razão humana. O homem não pode portanto se salvar apenas pelas forças da razão: lhe é necessário uma ajuda   estrangeira, uma graça divina.

a. Esta graça divina manifesta-se em primeiro lugar na ordem   do conhecimento. Uma vez que a razão humana é incapaz de alcançar Deus, Deus só será conhecido se revelar-se. O conhecimento de Deus sai portanto aqui do plano lógico ou intelectual e de uma mística que, indo além deste plano, o prolonga sobre uma mesma linha, para entrar no domínio da gnose (essencialmente gnosis   theou), que é un conhecimento de fé: crê-se na revelação ou recusa-se de nela crer.

b. A graça divina manifesta-se em segundo lugar na ordem da ação. Aqueles que creram nele, Deus os protege durante suas vidas, em lhes concedendo um daimon   paredros, em lhes ajudando a bem agir.

c. Ela se manifesta em fim, e é seu benefício maior, na ordem dos fins últimos. Uma vez morto, o crente fiel remonta em direção a Deus Salvador  , atravessa todo o espaço do mundo abaixo e acima da lua   para atingir, na região hipercósmica, o Deus escondido.

2. Assim se constitui um povo de eleitos, de convocados. Eles receberam a verdade, nela creram, e desde então se distinguem absolutamente da massa  . Mas o dom que lhes foi feito impõe-lhes em retorno deveres. A revelação é um segredo (mysterion  ) que eles não devem divulgar (publicare, diaballein [1]) ou só podem transmitir aos dignos.

3. Nas místicas consideradas mais adiante, mística do Ser, contemplação dos astros, união   à Razão imanente ao cosmos, é um movimento   de conhecimento que leva à adoração: colit qui nouit. As vias da negação, do êxtase (plotiniano) ou da analogia   são todas, segundo seus próprios modos  , métodos teoréticos de união a deus. Nas místicas da salvação, este processo é revertido. Como estes místicos se fundam sobre um sentimento   pessimista das possibilidades do intelecto   humano, não é possível o conhecimento intelectual conduzir à união divina, a gnosis neou deriva ao contrário da experiência religiosa que toma frequentemente a forma de uma visão. Deixou-se o plano da sabedoria   filosófica. Conhecer Deus é doravante affaire de iniciação, de teurgia   ou de magia: nouit qui colit.

Original

1. Si le monde, régi par l’Heimarménè, est mauvais, tout ce qui, dans l’homme, est du monde, est mauvais aussi, du moins entaché de mal. Or la partie cosmique de l’homme n’est pas seulement son corps, hylique par définition, mais aussi son âme liée au corps et, dans cette âme, la raison raisonnante, laquelle est bien capable de connaître ce qui est à l’intérieur du monde, mais non pas de s’élever, au-dessus du monde, jusqu’à l’appréhension du vrai Dieu hypercosmique. Le pessimisme à l’égard du monde conduit ainsi à un pessimisme, plus ou moins radical, à l’égard de la raison humaine. L’homme ne peut donc se sauver pas les seules forces de la raison: il lui faut une aide étrangère, une grâce divine.

α. Cette grâce divine se manifeste d’abord dans l’ordre de la connaissance. Puisque la raison humaine est incapable d’atteindre Dieu, Dieu ne sera connu que s’il se révèle. La connaissance de Dieu sort donc ici du plan logique ou intellectuel et d’une mystique qui, tout en dépassant ce plan, le prolonge sur une même ligne, pour entrer dans le domaine de la gnose (essentiellement γνῶσις θεοῦ), qui est une connaissance de foi: on croit à la révélation ou l’on refuse d’y croire.

β. La grâce divine se manifeste en second lieu dans l’ordre de l’action. Ceux qui ont cru en lui, Dieu les protège durant leur vie, en leur accordant un δαίμων πάρεδρος, en les aidant à bien agir.

γ. Elle se manifeste enfin, et c’est son bienfait le plus considérable, dans l’ordre des fins dernières. Une fois mort, le [18] croyant fidèle remonte vers le Dieu Sauveur, il franchit tout l’espace du monde au-dessous et au-dessus de la lune pour atteindre, dans la région hypercosmique, le Dieu caché.

2. Ainsi se constitue un peuple d’élus, d’appelés. Ils ont reçu la vérité, y ont cru, et dès lors se distinguent absolument de la masse. Mais le don qui leur a été fait leur impose en retour des devoirs. La révélation est un secret (μυστήριον) qu’ils ne doivent pas divulguer (publicare, διαβάλλειν) (2) ou ne peuvent transmettre qu’aux «dignes».

3. Dans les mystiques considérées plus haut (A, B I), mystique de l’Être, contemplation des astres, union à la Raison immanente au cosmos, c’est un mouvement de connaissance qui menait à l’adoration: colit qui nouit. Les voies de négation, d’extase (plotinienne) ou d’analogie sont toutes, selon leur mode propre, des méthodes théorétiques d’union à Dieu. Dans les mystiques de salut, ce processus   est renversé. Comme ces mystiques se fondent sur un sentiment pessimiste des possibilités de l’intellect humain, loin que la connaissance intellectuelle puisse mener à l’union divine, la γνῶσις θεοῦ dérive au contraire d’une expérience religieuse qui prend le plus souvent la forme d’une vision. On a quitté le plan de la sagesse philosophique. Connaître Dieu est désormais affaire d’initiation, de théurgie ou de magie: nouit qui colit.


Ver online : Festugière - Hermétisme et mystique païenne


[1Toda divulgação é uma falsa representação, e portanto uma espécie de diabole