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Platão: República II
sábado 9 de abril de 2022
PLATÃO - REPÚBLICA II
Entre a concepção crematística de Céfalo e o paradoxo do Sofista , ficaram sem consistência os alicerces morais da Justiça. Por isso, no princípio do Livro II, se insiste em querer saber a natureza da justiça e da injustiça «sem ligar importância a salários nem a consequências» [1].
Os dois irmãos de Platão querem, portanto, a demonstração de que a justiça é intrinsecamente boa [2], Para tanto, Sócrates propõe-se apreciar os fatos em grande escala [3], o que lhe facilitará a tarefa. Por conseguinte, transfere a sua análise do indivíduo para a cidade.
Descrevem-se então as transformações de uma cidade, que, de primitiva, se torna em luxuosa, motivo por que começa a precisar de uma especialização de tarefas cada vez maior. Essa cidade carece de soldados que a defendam e preservem - de guardiões com um treino próprio. A educação deve dar-se-lhes, pela música e pela ginástica, à maneira tradicional grega [4], principia a ser estudada em 376c, Mas música, para os Helenos , é a arte das Musas , em que a poesia não se dissocia dos sons. Ora as fábulas dos poetas, que costumam ensinar -se às crianças, estão repletas de falsidades sobre os deuses, a quem atribuem todos os defeitos, em vez de revelarem a divindade na perfeição dos seus atributos. No começo do livro já se haviam feito citações de versos que sugeriam que os deuses não eram garantia de justiça; agora declara-se abertamente que os poetas não servem para instruir a juventude . (PLATÃO. A República. Tr. Maria Helena da Rocha Pereira. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2017)
- REP II 357a-358a — Continua o debate sobre a justiça
- REP II 358a-367e — A injustiça
- REP II 367e-383c — Definição da essência da justiça
[1] II. 358b.
[2] II. 366b-367e, especialmente 367b.
[3] II. 368d:... «Entendo que devemos conduzir a investigação da mesma forma que o faríamos, se alguém mandasse ler de longe letras pequenas a pessoas de vista fraca, e então algumas delas dessem conta de que existiam as mesmas letras em qualquer outra parte, em tamanho maior e numa escala mais ampla. Parecer-lhes-ia, penso eu, um autêntico achado que, depois de lerem primeiro estas, pudessem então ver as menores, a ver se eram a mesma coisa».
[4] Durante a época arcaica, havia apenas dois mestres; o paidotribes, que exercitava na ginástica, e o kitharistes, que ensinava música. Nos princípios do séc. v a.C., juntou-se-lhes o grammatistes ou mestre das primeiras letras.