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proodos
sexta-feira 25 de março de 2022
próödos: avanço, processão
1. Nos seus termos mais gerais a «processão» é a tentativa do platonismo tardio para resolver as dificuldades parmenidianas da unidade e da pluralidade. Se o Uno (hen) é, e é transcendente (ver hyperousia ), donde a subsequente pluralidade do kosmos? Plotino , qus enfrenta o problema a vários níveis (v. g. a unidade e a pluralidade da alma nas Enéadas IV, 3, 2-6; ver psyche), reporta-se frequentemente a explicações metafóricas e particularmente à figura do sol e aos seus raios (ver eklampsis ). Mas a base metafísica da solução para o problema «Se um, porquê muitos?» assenta na natureza do Uno e, particularmente, na sua perfeição (telos ; Enéadas V, 4) e na identificação da causa eficiente e final (ver Timeu 29e e confrontar Enéadas IV, 8, 6; V; daí o posterior bonum est diffusivum sui).
2. Isto proporciona os elementos para a derivação mais sistemática que Proclo faz das hypostases. Começa (Elem. theol., prop. 21) por citar um paralelismo matemático das séries geradas a partir da monas. Para Proclo esta é uma figura melhor do que a eklampsis visto que permite o transito em ambas as direções nas séries, possibilitando assim o importante correlato ético da processão, «retorno» (epistrophe ).
3. Segue-se (props. 25-30) uma descrição do próprio proodos . Todos os seres completos ou perfeitos (teleion) geram (props. 25, 27; confrontar Enéada V), mas a causa permanece não-diminuída e imóvel (menon; prop. 26), como já tinha sido de fato compreendido por Platão (Timeu 42e). Este princípio, destinado a salvaguardar a integridade e a transcendência da arche , é um lugar-comum em Plotino (ver Enéada V; V) e salienta-se particularmente com a introdução de um Deus -Criador nos sistemas (ver Agostinho, Conf. I, 3). O efeito é semelhante (homoios ) à causa (prop. 29) e assim o efeito tanto está presente na causa como procede dela (prop. 30; ver Enéada V). Assim, há uma tríade de três «momentos»: cada efeito (aitiaton) permanece (menon) na sua causa, procede (proodos) dela, e regressa a ela (epistrophe; prop. 35) qua bem (ver Proclo, Theol. Plat. II, 95).
4. As aplicações destes princípios são imensas. O princípio da semelhança, aqui expresso na sua processão de saída, será aplicado na epistrophe oposta (prop. 32) e fornecerá assim um meio tanto para a ascensão moral da alma até à sua fonte (para uma visão ética da sua «queda», ver kathodos), como para as bases epistemológicas da abordagem cognitiva de Deus (ver Enéada I e agnostos; para o princípio da semelhança no contexto mais vasto da cognição ver homoios, aisthesis ). Dá, além disso, uma visão de todo o kosmos, tanto nos seus aspectos sensíveis como nos inteligíveis, como um magnífico organismo (holon ) com as suas partes ligadas numa relação de compatibilidade (sympatheia ) e descendendo, numa cadeia ininterrupta de seres análogos , de uma arche comum.
Para a posição do proodos num contexto ontológico mais geral, ver trias . [Termos Filosóficos Gregos, F. E. Peters ]
O movimento inverso à ascensão da alma, evocado por toda parte no neoplatonismo, aparentemente anterior, mas na verdade incessante e logo simultâneo, mostra que em nenhum sentido se deve tomar esta “processão” (proodos) como evento fundador e metahistórico mais ou menos assimilável a uma criação ex nihilo, seja simplesmente a uma “fabricação” demiúrgica tal qual a relatam mitos como aquele do Timeu platônico. A efusão do Princípio originário — certamente não esgotamento, é pelo menos divisão, dispersão, enfraquecimento progressivo da infinita Fecundidade. (Maurice de Gandillac )