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Caeiro: genesis

quinta-feira 24 de março de 2022

      

Excerto   de CAEIRO, António de Castro  . A arete   como possibilidade extrema do humano. Fenomenologia da práxis em Platão e Aristóteles. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa   da Moeda, 2002, p. 289

«A chamada natureza é como que um processo geracional, um caminho   para a natureza» [Aristóteles, Física, 193b12-13], na medida em que «aquilo que se forma vem de um estado   natural   primário para um estado último em que se torna naquilo que é» [Ibid., 193b16-18]. A natureza é uma tendência para se tornar algo [Ibid., 193b18]. Um homem   concreto gera-se de um homem concreto. Ou seja, a mera possibilidade homem não gera o produto natural acabado homem. Esta possibilidade de produzir um produto a partir da sua estrutura   constituinte é dada pela tendência para a alteração (ὁρμὴ μεταβολῆς, horme   metaboles) que radica no princípio da movimentação (ἀρχὴ κινήσεως, arche   kineseos, v. kinesis  ). Um ente   técnico não se gera a partir de nenhum outro ente técnico. Uma cama, por exemplo, não nasce de nenhuma outra cama. O seu processo de geração e as vias de formação do seu ser concretamente (γένεσις   εἴς οὐσίαν, genesis eis ousian) são provocados pela perícia (τέχνη  , techne) e não pela natureza (φύσις, physis). Mas também as artes que tendem para o restabelecimento da natureza (φύσις) enquanto perícias (τέχναι) não produzem qualquer coisa da sua própria natureza. A medicina   (ἰάτρευσις, iatreusis) [Ibid., 193b14] tende para o restabelecimento da natureza, mas ela não tende para qualquer coisa do seu género, para uma outra forma de cura medicinal (ἰατρική, iatrike) [Ibidem], tende antes para a saúde. A medicina é um encaminhamento para a saúde e não para uma outra medicina. O encaminhamento específico da natureza para a produção dos entes pelos quais é responsável processa-se de uma forma diferente. Aquilo que se gera e desenvolve naturalmente gera-se a partir de algo (ἐκ τινός, ek tinos) [Ibid., 193b17] e tende para algo (εἴς ὅ) [Ibidem]: a chegada ao ente em que se torna. A estrutura da natureza para a natureza é movida pela própria natureza, e manifesta-se em cada ente natural concreto que vem à existência. A natureza faz um ente da sua natureza passar a ser, mantém-no nessa forma de encaminhamento na tendência para a substância.