Kingsley (Reality:55-56) – Parmênides, mensageiro do mundo dos mortos

      

Com Parmênides não há como voltar atrás. Na rota que ele é obrigado a seguir não há como parar no meio do caminho  .

Seu poema não tem pausas. Realmente não tem partes: é um todo sem costura. E estamos costurados dentro dele — nosso presente  , nosso futuro, nosso passado.

Logo no início ele evoca a viagem   que fez, com as Filhas do Sol  , ao submundo e à morada   da deusa   sem nome; então ele vai direto para mencionar a recepção calorosa que ela lhe deu, junto com seu resumo inicial das coisas que ela está prestes a ensinar  .

E depois disso vem o próprio ensinamento.

---

Após as saudações e formalidades introdutórias, a deusa vai direto ao ponto. A primeira declaração que ela faz ao iniciar   a parte principal de seu ensinamento é geralmente traduzida, sem muita atenção aos detalhes, como “Vou te dizer, e levas minhas palavras a sério depois de ouvi-las...”; ou como “Vou te dizer, e prestes atenção ao que te digo uma vez o tenhas ouvido...”

E, no entanto, não há uma única palavra no grego original sobre prestar atenção ou levar algo a sério. O que contém é a sugestão passageira de que Parmênides precisa cuidar bem das palavras da deusa, cuidar delas — embora por conta delas, não dele. Mas o significado básico do grego aqui vai além disso; e o sentido principal de suas instruções é claro além de qualquer dúvida.

O que está sendo dito a Parmênides é tomar o ensinamento dela: levá-lo consigo.

Vou fazer a fala; e cabe a ti

levar minhas palavras depois de ouvi-las.

Claro que isso levanta a questão de onde Parmênides precisa levar suas palavras. Mas a pergunta se responde assim que nos lembramos de onde ele já está.

Sua jornada o conduziu ao submundo, e é aqui que ele ainda está. Tudo o que ela está dizendo a ele é para levar seus ensinamentos de volta com ele do mundo dos mortos para o mundo dos vivos.

Em outras palavras, Parmênides deve ser simplesmente seu mensageiro.