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Coomaraswamy (AKCcivi:228-229) – Duas Mentes

sábado 12 de novembro de 2022

      

A doutrina   tradicional das "duas mentes" ou dois   aspectos da mente   trata do que existe no ato e o que existe na ação. Combinando a Metafísica de Aristóteles (XII. 7.8, 1072b, 20s. e XII. 9.5, 1074a, 34s) com De anima   III.5, 430a vemos que destas duas a primeira ou Mente   "em ação" (energeia  ) propriamente dita (kath adten), no seu próprio ato de existir, significa "separado" (christos) dos que têm sensibilidade   (ton aistheton), dos contemplativos (theoretikos), impassíveis (apathes  ), sem nenhuma recordação, e não misturados com nada; ela não pensa, ou antes, "o « Pensamento » dela é o « Pensamento do pensamento »" (noeseos noesis), isto é, o princípio e o sine qua non do pensamento, e não a atividade   de pensar. Em outras palavras, "ela pensa apenas por si mesma" (auton ara noei) "por toda a eternidade  " (ton apanta aiona), sem distinção entre sujeito   e objeto, pois onde ambos são imateriais "a tese é tanto a operação como o pensamento" (o logos   to pragma   ki he noesis), "pensamento e o que é pensado são uma e uma só coisa" (he noesis to noomeno mia); a mente, "transformando-se em tudo" (panta   ginesthai), é o que ela própria sabe. Além do mais, é a Vida eterna e beatífica (hedistos), a Vida (zoe  ) do próprio Deus  . A segunda mente é criativa (poietikos  ), e é uma "causa   eficiente (to aition kai poietikon) no sentido de fazer tudo" e (to panta noein); é passiva (pathetikos) e mortal   e pensa em coisas contingentes, nem sempre pensando em si mesma. A mente é sensível num plano ainda mais baixo que o da sua atividade criadora (aisthetikos = pathetikos).

Estas duas (ou três) mentes são as mesmas duas (ou três) partes da alma mencionadas por Platão: uma imortal e a outra mortal, esta na sua melhor parte ativa e corajosa e na pior   parte passivamente afetada e subjugada pelas reações e emoções provocadas pelos sentidos (aisthesis). Na doutrina universal   de "uma essência e duas naturezas", as duas mentes são as "naturezas". Como três, correspondem à vida contemplativa, à ativa e à vida de prazer.


Ver online : Ananda Coomaraswamy – O que é civilização?