Kingsley (Reality:93-94) – Parmênides - metis e existência

O ensinamento de Parmênides está focado, em todas as suas reviravoltas e desdobramentos, na realidade da absoluta quietude   e unidade   e não-separação  . E desde o início as pessoas preferiram seguir outros caminhos próprios.

Desde que os pensadores gregos em Atenas colocaram as mãos em seus ensinamentos há milhares de anos, a suposição era de que ele estava fazendo ouvidos moucos e olhos cegos para o mundo dos sentidos com todas as suas mudanças e movimentos: que ele estava simplesmente negando-o, escapando para um mundo de puro pensamento  .

A suposição tem sido tentadora de se fazer. E parece bastante razoável, desde que você não preste atenção ao que Parmênides diz.

Desde o primeiro momento em que a deusa   traz à tona a questão da unidade, ela busca uma demonstração disso, como vimos, diretamente no mundo dos sentidos.

Como ela poderia negar os sentidos é realmente inconcebível. O jeito dela, o caminho   que ela diz que é o único, não nega absolutamente nada. Tudo o que podemos perceber ou pensar é. E então, no minuto em que ela se volta para descrever a condição humana, ela começa a defini-la como a falta de metis  : uma qualidade   muito particular de consciência enraizada firme   e diretamente no mundo dos sentidos em constante mudança  .

Certamente, Parmênides recebeu sua sabedoria   por incubação; fazendo a viagem   para outro mundo. Mas um dos aspectos mais marcantes de sua jornada é a importância que ele atribui à descrição do que vê ao longo do caminho e do que ouve – especialmente o estranho som   de silvo que era tão significativo na prática da incubação porque pano de fundo de todos os sons da existência.

Quanto ao lugar a que chegou, não era um paraíso remoto e distante. Ao contrário: eram as raízes, o ponto-fonte de tudo o que existe. Quanto ao que lá descobriu, é um ensinamento que abarca tudo; do qual nada é excluído. E quanto ao ensinamento em si, que ele é ordenado a levar consigo, não é um jogo   de salão intelectual.

Assim como o conhecimento de legislar trazido por Epimênides do submundo, acontece de ser imensamente prático.

Metis é tão governada por sua própria lógica interna que destrói qualquer expectativa  , quebra todos os moldes normais. Tudo o que o impuro toca é agraciado com tal precisão que raramente parece limpo e arrumado. Seguir o caminho razoável e sensato, afastando-se dos riscos do engano  , não é seu estilo.

Ela procura a certeza   no reino da incerteza, não em qualquer outro lugar; está sempre indo direto para o coração   do perigo.

E a realidade para a qual a deusa está nos apontando não é um porto seguro dos sentidos. Ela está nos mostrando como guiar   nosso caminho através do oceano da existência, como navegar em um mundo cheio de astúcia e ardil – como encontrar a quietude no meio do movimento, a prova de unidade na aparente separação, a evidência de algo além de nossos sentidos através do uso da leitura e da escuta.

Quanto a Parmênides, ele pode passar suas orientações e lembretes. Mas são apenas placas de sinalização; e a única maneira de verificar sua precisão é viajando. Se nos recusamos a manter nossos olhos e ouvidos atentos e seguir os sinais  , isso não é culpa   dele.

É porque preferimos ficar do jeito que nos descreveram há mais de dois   mil anos: muito surdos e completamente cegos.