Ivánka (Plato Christianus:425-426) – Três visadas do platonismo

O platonismo   decorre de três visadas ou intuições perfeitamente legítimas:

1 / O conjunto   dos seres reais e possíveis, ou seja, tanto os que existem como os pensáveis, é necessariamente um conjunto ordenado.

2 / Este todo vem de uma fonte suprema de ser que contém toda a realidade e todo o ser   em uma unidade   original; sua existência isolada resulta de sua dispersão na multiplicidade do todo.

3 / A existência desse Uno originário pode ser objeto de uma "experiência" e de uma certeza   imediata, porque não é apenas a fonte   de todo ser, mas também a meta última do esforço próprio do homem  , mesmo que não possa ser alcançado sem graça, pois o esforço, em si mesmo  , é apenas um "eixo   de orientação" que só a graça pode pôr em movimento  , de modo que se torna um esforço em ação: mas então este esforço suscitado por um impulso de graça dá testemunho imediato do existência dessa meta "testada" no próprio esforço.

Estes três momentos têm uma importância capital também para o pensamento   cristão, e nele encontram um lugar legítimo: o primeiro como desejo de encontrar uma compreensão do mundo em geral, o segundo — se bem o entendemos — como uma formulação filosófica global do que é o conceito de criação na doutrina   cristã; o terceiro é uma forma de experimentar a "abertura  " do mundo ao sobrenatural, bem como o movimento da graça que atua mesmo que não tenhamos consciência disso; e se a consciência vem como um bônus, se "a certeza da existência da meta, tirada da experiência do esforço que se faz para ela", é entendida num sentido autenticamente cristão, o platonismo oferece então uma fórmula segundo a qual expressar a experiência mística cristã: mostramos isso pela história dos temas e da terminologia. E essa transposição lhe dá sua primeira interpretação adequada e fiel, uma interpretação correspondente ao seu próprio conteúdo de verdade.